Twitter e e-mail não votam

Há uma terabyte de distância entre a cabeça do eleitor do Brasil e o dos Estados Unidos quando ele escolhe o presidente da República e milhões de pc´s, notebooks e Smartphones entre a importância da internet numa eleição majoritária dos dois países. Daí, o cuidado que candidatos (semi-analfabetos digitais em sua esmagadora maioria), devem tomar em relação aos seus objetivos em 3 de outubro de 2010. Porque a primeira lição que se deve ter é que twitter e e-mail ainda não são formas de votar, aceitas pelo TSE no Brasil. Aliás, em lugar nenhum. Nessa época de eleição, tem sido muito divertido para o pessoal que junta dois bytes assistir aos "especialistas em mídia digital" quase dizerem que, com uma boa estratégia de marketing digital, um candidato "idiota" pode ser eleito. Desde que use as "novíssimas ferramentas de alavancagem digital" já disponíveis e a preços bastante interessantes. E, como sempre, o exemplo mágico é a força da internet na eleição de Barack Obama. Na verdade, a idéia e induzir a proposta de que Barack Obama foi eleito pela competente ação de seus estrategistas em internet e que isso pode ser aplicado no Brasil.
Não é bem assim: mas basta pesquisar um pouco no Google e ver que a internet ajudou muito o Barack Obama a virar um movimento de massas. Dá para ver e que a Web foi uma espetacular ferramenta de captação de recursos a baixíssimo custo para a campanha - o que como se sabe ainda não é permitido no Brasil. Mas, replicar o modelo é complicado. Mas o que os especialistas não dizem é que algumas coisas básicas para a estratégia de Obama continuam lá a ser feitas como há 200 anos. Ou seja: o contato direto e pessoal de um político com seus eleitores que às vezes exige escrever cartas de próprio punho e não cometer erros. O que a internet fez foi modernizar isso. Não dizem, por exemplo, que Obama tinha um competente site oficial de campanha cuja finalidade foi agregar todas as ferramentas online disponíveis em 2008: MyBarackObama (rede social), BarackTV, blog, doações online, músicas, notícias, conteúdo personalizado por estado, conteúdo para celular, loja virtual, fotos, wallpapers, comunidades segmentadas, espaço para debates online, etc. E que eles desenvolveram, inclusive,um aplicativo para Iphone.  Quer saber mais? No YouTube, por exemplo, os 330 vídeos oferecidos por seguidores de McCain, tiveram 2.185.174 exibições. No site de Barack Obama, 29.900 pessoas postaram 134.846 vídeos. O canal de exibições cravou 19.565.669 exibições. Não dizem também que a campanha aberta começa dois anos antes com o candidato às primárias montando uma estrutura que faz as nossas serem eleições de grêmio estudantil. Mas, voltemos ao caso da internet do Obama.
Bom, para que se tenha uma idéia, a inclusão digital já faz tempo que passou de 76% com 66% com acesso a internet. E que a publicidade e ações de marketing é livre desde que o sujeito abra seu e-mail para receber as informações do candidato. Pois bem: no mês setembro de 2008, Barack Obama tinha reunido - ao longo de dois anos de estrada - 9.000 grupos de discussão sobre suas propostas. Não eram as propostas do Partido Democrata e sua máquina eram propostas do Barack Obama (www.obama.com). Tem mais: quando chegou em setembro, a campanha tinha um banco de eleitores cadastrados para receber informações de 1.2 milhões de pessoas. Não era spam, era gente que entrava no site, preenchia um questionário e se habilitava a receber notas e informações podendo até se habilitar na sua cidade como voluntário. Então, quando ele falava, seus discursos e pronunciamentos tinham audiência.
Teve ainda a questão do dinheiro. Nos Estados Unidos uma pessoa pode doar de US$ 25 a US$ 2.700 e pagar pelo cartão de crédito. A internet foi responsável por 87% de toda a arrecadação da campanha de Obama e 93% dos doadores contribuíram com menos de US$100. Já se sabe que boa parte do dinheiro que entrou, foi de crianças.
Gente que pedia ao papai e à mamãe para usar o cartão de crédito da família e doar parte mesada. Ou alguém esquece que Obama era o preferido da gurizada? Até porque Barack Obama marcava presença em todas as principais redes sociais: Facebook, MySpace, YouTube, Flickr, Digg, Twitter, Eventful e Linkedin.
Conto um caso. O Jonh McCaine fez uma jantar para arrecadar R$ 22 milhões. A festa custou R$ 1,2 milhão. O Obama fez um evento para arrecadar dinheiro. Gastou US$ 36 mil e arrecadou US$ 12 milhões. Nisso, a internet ajudou muito ao Obama.
Agora, pensa nisso aqui, no Brasil? A internet ajuda? Ajuda! Um bom site, uma assessoria de imprensa em tempo real que atende aos pedidos da mídia e seja capaz de produzir pautas e não apenas acompanhar o candidato e estar com endereços de rede sociais etc. e etc. E não achar que e-mail ou post notwitter conquista voto.
Sim, tem "candidato", que contrata um assessor para por tudo o que ele faz ou não faz. Inventou-se o assessor de imprensa de twitter. O candidato que não é chamado para absolutamente nada começa a postar às seis da manhã: @ Acordei, @ Fiz xixi, @Os ovos da Maria estavam um delícia, @o O José, nosso motorista agora só veste a camisa de nossa campanha, e vai por ai. De madrugada ele põe um último post do dia @soninho, vou dormir. Olha, alguém acha que isso ajuda a decidir um voto?
Bom, nessa campanha já teve gente que ofereceu seguidores do twitter. E o mais grave, teve gente que aceitou! Serviu para desmoralizar essa onda de "produtos". Foi terapêutico.
Isso não quer dizer que Facebook e todas as rede sociais não ajudem. Ajudam. Mas, dentro de uma estratégia global. E nunca podem ser âncora. E uma coisa tem que estar sempre presente: depois do Google todo erro, apropriação de idéia ou bobagem dita na imprensa fica registrado.
Então, a internet é ferramenta para ajudar se o candidato tem o que dizer e se já disse antes. É meio, não um fim. Porque, entre os mais jovens, por exemplo, mesmo depois de ter escolhido seu candidato, o eleitor vai buscar o que a internet já publicou sobre ele. E aí, se o cara nunca fez nada ou já fez bobagem as rede sociais podem detoná-lo.

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