Festa
junina no Brasil é assim: tem arraial, quentão, quadrilha ... e
dinheiro público de montão. A pedido dos parlamentares, o Ministério do
Turismo já garantiu, até o momento, o repasse de R$ 22 milhões para a
realização dos festejos populares dos meses de junho e julho.
Essa
verba sairá dos cofres para atender às solicitações feitas nos últimos
meses por 66 autoridades: 49 deputados, 12 senadores e cinco
ex-parlamentares. Quase a metade desse valor, R$ 10,4 milhões, foi
destinada a redutos eleitorais de apenas dez parlamentares, seis deles
da Paraíba.
Os pedidos de direcionamento dos recursos foram feitos
Os pedidos de direcionamento dos recursos foram feitos
“Festa junina no Brasil é assim: tem arraial, quentão, quadrilha … e dinheiro
público de montão. A pedido dos parlamentares, o Ministério do Turismo já
garantiu, até o momento, o repasse de R$ 22 milhões para a realização dos
festejos populares dos meses de junho e julho. Essa verba sairá dos cofres para
atender às solicitações feitas nos últimos meses por 66 autoridades: 49
deputados, 12 senadores e cinco ex-parlamentares. Quase a metade desse valor, R$
10,4 milhões, foi destinada a redutos eleitorais de apenas dez parlamentares,
seis deles da Paraíba.
Os pedidos de direcionamento dos recursos foram feitos por ofícios
encaminhados pelos gabinetes ao ministro Pedro Novais (PMDB). Um terço do
dinheiro prometido contemplou as reivindicações de 17 parlamentares do partido
dele. Até agora, R$ 7,8 milhões estão reservados para prefeitos indicados por
peemedebistas. O PR, com R$ 3,35 milhões, e o PSC, com R$ 2 milhões, aparecem em
seguida na lista dos partidos mais “festivos”. Entre as bancadas estaduais, a da
Paraíba, com R$ 6,7 milhões, a do Ceará, com R$ 4,4 milhões, e a da Bahia, com
R$ 2,95 milhões, foram as mais contempladas. O Maranhão, estado natal do
ministro, ficou com apenas R$ 100 mil.
Mas a distribuição de dinheiro público para esse tipo de festa nos redutos
eleitorais dos parlamentares este ano será ainda maior do que os R$ 22 milhões
prometidos até agora. O Ministério do Turismo ainda analisa pedidos de convênio
de prefeituras que vão promover festas em julho. Os dados fazem parte de
levantamento feito pelo Congresso em Foco até a última sexta-feira (1º).
Mesmo os parlamentares que mais direcionaram recursos do orçamento às festas
juninas reconhecem que esse dinheiro público poderia ser aplicado para atender
demandas mais prementes da sociedade. Eles dizem fazer isso para atender a
apelos de prefeitos e eleitores de seus estados. Outros sustentam que o
aquecimento na economia local compensa o investimento e garante a preservação de
uma tradição, forte principalmente no Nordeste.
A BANCADA DO SÃO JOÃO NO CONGRESSO
Os dez parlamentares que obtiveram mais dinheiro para as festas juninas
Senador Vital do Rêgo Filho (PMDB-PB) – R$ 2,05 milhões
Deputada
Gorete Pereira (PR-CE) – R$ 1,4 milhão
Senador Eduardo Amorim
(PSC-SE) – R$ 1,23 milhão
Deputado Márcio Marinho (PRB-BA) – R$ 1
milhão
Senador Wilson Santiago (PMDB-PB) – R$ 950 mil
Ex-deputado Wilson
Braga (PMDB-PB) e deputado Hugo Motta (PMDB-PB) – R$ 900 mil
Cícero Lucena
(PSDB-PB) – R$ 800 mil
Carlos Eduardo Cadoca (PSC-PE) – R$ 800
mil
Wellington Roberto (PR-PB) – R$ 750 mil
Manoel Júnior (PMDB-PB) – R$
600 mil
Colhendo os “louros”
O vice-líder do PR admite que as festas juninas rendem dividendos políticos e
eleitorais para prefeitos e parlamentares. Além de liderar o volume de recursos,
a Paraíba é o estado com mais municípios contemplados com recursos do Ministério
do Turismo para festas juninas – são 38 ao todo. “Não posso afirmar que há uso
político, mas o parlamentar vai pra lá na festa, onde está toda a população da
cidade, e tira proveito disso. Você vai colher algum louro dentro da condição
política”, reconhece Wellington.
Ele afirma que o dinheiro seria mais bem empregado em investimentos de
infraestrutura turística. Mas, segundo o deputado, a emenda acaba sendo
necessária para atender ao caráter festivo dos nordestinos. “O povo do Nordeste
é festeiro. Vá após o encerramento da festa em Campina Grande. Os ‘nego’ tão
caindo na calçada. Não sei aonde arranjam vigor físico para tomar tanta ‘cana’.
Nos outros dias, estão caindo pelas tabelas também, mas estão trabalhando”, diz
o deputado.
Corrupção em todo canto
O senador Wilson Santiago (PMDB-PB) e o deputado Manoel Junior (PMDB-PB) saem
em defesa das emendas para a realização das festas juninas. Para eles, só quem
vai a um grande arraial nordestino sabe reconhecer a importância desse tipo de
evento para a cultura e a economia local. “É uma manifestação secular e
espontaneamente popular. O que o Estado faz é promover intercâmbio de artistas.
Quem lucra é o comércio, formal e informal. Isso é absolutamente legal.
Corrupção há em todo canto. Não é por causa do São João”, diz Wilson Santiago,
por meio de sua assessoria. O senador destinou R$ 950 mil para festas em seu
estado.
Seguindo o mesmo raciocínio, Manoel Júnior afirma que o retorno econômico
produzido pelas festas e a falta de recursos das prefeituras justificam a
intervenção dos parlamentares no governo federal para garantir o repasse de
dinheiro público. “De onde o prefeito vai tirar isso? Do Fundo de Participação
dos Municípios e dos impostos municipais? Ele acabaria tirando dinheiro da
saúde, da educação e da cultura. O prefeito tem de rebolar para atender às
expectativas da população que gosta de arrastar o pé na poeira e que tem o
direito, pelo menos uma vez por ano, de se divertir”, considera.
Até a semana passada, o Ministério do Turismo havia se comprometido a
transferir R$ 600 mil para festas em municípios indicados pelo deputado
peemedebista. “Não só estamos estimulando a cultura local, o forró tradicional e
o forró de ‘plástico’, que atraem multidões, aquecendo a economia e o comércio
locais. Além do retorno cultural, que é o fundamental, isso mantém a chama acesa
de nossa cultura do Nordeste”, defende.”
(Congresso em Foco)
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