O mundo não está tão superlotado como pode parecer após atingir a
marca de 7 bilhões de habitantes. Pelo menos em termos urbanísticos,
como avalia o professor Benny Schvarsberg, da faculdade de arquitetura e
urbanismo da Universidade de Brasília (UnB). Muitas das estimativas
negativas apresentadas no passado, que apontavam para um quadro caótico,
principalmente nas grandes cidades, não se confirmaram. O mundo é
grande e há espaço para que a população cresça “desde que esse
crescimento não venha acompanhado de desigualdade social”, disse o
urbanista.
“Antes de tudo é necessário termos parâmetros para um debate mais
consequente e menos alarmista [sobre haver ou não uma superpopulação no
mundo]. A exemplo das grandes concentrações humanas, as baixas
densidades demográficas também podem representar problemas do ponto de
vista ambiental e de infraestrutura, já que a ocupação humana acaba
ficando territorialmente mais extensa, implicando também na necessidade
de ampliação da infraestrutura”, exemplifica Schvarsberg. Segundo ele, é
preciso encontrar um ponto de equilíbrio entre a concentração e a
expansão das cidades.
O urbanista lembra que, na década de 1990, foram divulgadas muitas
estimativas alarmistas no campo demográfico, principalmente em relação
às principais metrópoles do mundo, chamadas de megacidades. “Em razoável
medida, essas expectativas estrondosas, alarmistas e assustadoras não
se confirmaram.”
Segundo Schvarsberg, o crescimento das famílias foi muito menor do
que o esperado. As cidades não pararam de crescer. No entanto, o padrão
de crescimento demográfico foi se ajustando no mundo inteiro. “No
Brasil, houve dois movimentos muito curiosos. Um relativo ao
envelhecimento da população, outro relativo à baixa da taxa de
fertilidade feminina. As mulheres, atualmente, têm em média menos de
dois filhos. Há três ou quatro décadas, eram três filhos.”
“O que precisamos é ficar atentos para que as diferenças sociais não
acabem implicando em problemas ainda maiores do que os vividos
atualmente nas cidades de maior porte”, acrescenta o professor da UnB.
É exatamente nesse ponto que o otimismo de Schvarsberg acaba. Para
ele, não haverá riqueza e progresso equilibrados para todos.
“Infelizmente a riqueza vai continuar concentrada nas mãos de poucos,
gerando cidades cada vez mais segregadas, segmentadas e fragmentadas, e
gerando também consequências econômicas, ambientais, sociais, culturais e
políticas de todos os tipos. As políticas tenderão a ser ainda mais
voltadas para a segurança do que para educação, cultura e saúde. Isso é
trágico”, adverte o pesquisador.
Para o professor, o Brasil não foge à regra. “O Brasil é certamente
mais humano do que era antes, mas continua extremamente desigual. O país
se urbanizou de maneira assustadora. Entre 1940 e 1965, passamos de
país predominantemente rural e agrário para urbano.” Segundo o Censo do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 82% da população
brasileira vive em ambientes urbanos, ou seja, dos 190 milhões de
brasileiros, 160 milhões são urbanos. “Boa parte vive de forma
concentrada, já que as 12 maiores áreas metropolitanas recebem cerca de
40% a 45% da população do país. O restante se distribui em mais de 5 mil
municípios”, disse.
Schvarsberg acrescenta que parte dos problemas urbanos existentes no
Brasil existem em consequência de um erro estratégico cometido na metade
do século 20. “Na época, infelizmente, o país fez uma opção trágica, ao
abrir mão de um sistema predominantemente ferroviário pelo rodoviário.
Cidades foram construídas ao redor de estradas, e não de calçadas,
ciclovias ou ferrovias. Mas há sinalizações do governo federal no
sentido de retomar investimentos ferroviários e demais transporte sobre
trilhos. Esta é a melhor alternativa que poderíamos fazer do ponto de
vista da sustentabilidade”, argumenta o urbanista.
(Agência Brasil)
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