O Senador José Agripino e o Regime Militar
O senador José Agripino concedeu uma entrevista em 2010, ao jornalista Bruno
Barreto, editor político do jornal “O Mossoroense”, jornal matutino da
cidade de Mossoró-RN. Ele foi indagado se tinha se arrependido de ter
apoiado o Regime Militar, Agripino respondeu: “Eu não apoiei o Regime
Militar. Nunca apoiei o Regime Militar. Pelo contrario. Eu fui prefeito
no final do Regime Militar. Eu teria razões para me orgulhar de ter sido
artífice da transição e da redemocratização. Ao romper com o meu
partido, passando a apoiar, no Colégio Eleitoral, o nome de Tancredo
Neves para presidente da república, do ponto de vista político e
administrativo paguei um preço alto, na época eu era governador e muito
do que estava comprometido de verbas para a minha ação no governo, foi
cortada. Além do desgaste político de apoiar o mesmo candidato do meu
adversário Aluízio Alves”.
Essa é a versão do senador José Agripino
Maia. Mas, a verdade é outra, existem alguns equívocos ou inverdades
nessa história contata pelo senador, vamos aos fatos.
José Agripino
foi escolhido, pela Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte,
prefeito de Natal em 1979, portando em pleno Regime Militar e não no
final como ele diz na entrevista.
O nome de José Agripino foi
encaminhado para ser homologado pela Assembleia Legislativa como
prefeito da capital por Lavoisier Maia, seu primo e substituto do
governador Tarcisio Maia, pai de Agripino. Vale salientar que Tarcisio e
Lavoisier foram nomeados governadores biônicos pelo Regime Militar com a
concordância de Aluízio Alves, naquele momento, correligionário
político de ambos.
No Rio Grande do Norte todos se lembram da famosa
“Paz Pública” (entendimentos entre os Alves e os Maias) que resultou na
escolha de: Lavoisier Maia para governador do estado, Jessé Pinto Freire
para o senado e José Agripino Maia para prefeito da Capital. Aluízio
indicou o vice-governador, o escolhido foi Geraldo Melo, todos da
Aliança Renovadora Nacional – ARENA, base política do regime militar.
José
Agripino exerceu a função de prefeito biônico de Natal de 1979 a 1982,
foi a sua iniciação na vida política do estado, antes era um mero
desconhecido. O Regime Militar teve como último ditador o general João
Batista Figueiredo que governou até 1984. Portanto, Zé Agripino Maia foi
prefeito de Natal em plena ditadura militar.
Só para lembrar.
Tarcisio Maia, pai de Zé Agripino, foi nomeado governador, por indicação
do general Golbery do Couto e Silva, com o apoio decisivo de Aluízio
Alves, a escolha se deu em 1974, em pleno período denominado de Anos de
Chumbo do Regime Militar, quando, nos porões da ditadura, bandidos
torturaram e assassinaram milhares de brasileiros, alguns dos mortos
eram norte-rio-grandenses. Lembro aqui os nomes de Luiz Maranhão, Iran
Pereira, David Capistrano, Emanuel Bezerra, José Silton, Virgilio Gomes
da Silva, Bérgson Gurjão Farias, Anatália de Souza Melo; Lígia Maria
Salgado Nóbrega, Zoe Lucas de Brito e Edson Neves Quaresma, todos
torturados até a morte nas masmorras da ditadura.
Outro fato narrado
pelo senador que merece um esclarecimento, a sua eleição para o governo
do Rio Grande do Norte em 1982 e a derrota de Aluízio Alves.
Aluízio
Alves era considerado um candidato imbatível. Agripino, na entrevista ao
“Mossoroense”, não disse que essa eleição foi viciada por uma
legislação eleitoral casuística e ditatorial, dificultando o voto livre e
democrático, fato que favoreceu ao neófito político, José Agripino. O
Regime Militar criou o voto vinculado, só era permitido votar, de
vereador a senador, em candidato do mesmo partido. Foi criada a figura
do senador biônico. Tudo com um objetivo de prejudicar o MDB,
principalmente no nordeste onde o partido, no interior, tinha uma
pequena estrutura partidária e uma ampla chance de eleger alguns
governadores, a maioria dos senadores e deputados federais. Cito o
exemplo de Aluízio Alves, no Rio Grande do Norte e o de Marcos Freire,
em Pernambuco. Os dois estavam disparados na preferência popular, eram
candidatos do MDB, mas foram derrotados pela legislação eleitoral.
Na
eleição de 1982, o filho de Tarcisio Maia, José Agripino Maia foi o
candidato de Figueiredo ao governo do estado, Carlos Alberto de Souza
foi escolhido para concorrer uma vaga no senado e o velho Dinarte Mariz,
já no fim da sua liderança política, foi contemplando com o lugar de
senador biônico.
Carlos Alberto que era deputado federal foi premiado
por ter sido relator da CPI do atentado terrorista ao Riocentro, fato
ocorrido no Rio de Janeiro em 30 de abril 1981, ele inocentou os
militares envolvidos nesse ato terrorista. Além da vaga de senador no
PDS, Partido de Agripino, Carlos Alberto ganhou a concessão de um canal
de televisão.
Portanto, José Agripino Maio, líder dos “democratas” no
senado, surgiu na política potiguar graças ao Regime Militar de 1964,
ele é filho político do regime ditatorial, ele não pode nega a sua
origem e trajetória política, pode até renegar, hoje, a ditadura
militar, a quem serviu e dela recebeu as benesses do poder, mas não pode
simplesmente dizer que não foi beneficiário do Regime Militar, ele e a
sua família.
Agora, o senador não explicou o porquê da divisão dos
Maias no colégio eleitoral que escolheu o último presidente de forma
indireta. Tarcisio Maia, pai de Agripino, ficou com Mário Andreazza;
Lavoisier Maia, primo de Agripino, com Paulo Maluf e, José Agripino com
Tancredo Neves. Qualquer um que fosse eleito, os Maias ficariam por
cima. Tipo de estratégia, historicamente, utilizada pelas oligarquias.
Não
se pode nega a história, sei que ela é feita pelos vencedores e que as
versões às vezes valem mais do que os fatos, mas, a verdade é essa, José
Agripino Maia não pode desvencilhar a sua história política da ditadura
militar, ele é fruto político, por obra e graça, do regime militar,
como se diz por aqui, ele é um filhote da ditadura. Claro, que ele tem
seus méritos, soube consolidar uma liderança que se iniciou biônica e
depois se popularizou com a força e os instrumentos do poder.
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