Corpo de advogada foi enterrado em Parelhas
(Foto: Anderson Barbosa/G1)
(Foto: Anderson Barbosa/G1)
O policial militar Gleyson Alex de Araújo Galvão, de 35 anos, suspeito
de ter matado a pauladas a advogada Vanessa Ricarda de Medeiros, de 37,
afirmou à polícia que a vítima, sua ex-namorada, teria ficado enfurecida
com uma ligação que ele havia recebido e tentado agredi-lo. Em razão
disso, os dois, “entraram em vias de fato e, durante essa contenda
caíram ambos, não lembrando o que ocorreu depois disso”. As palavras
ditas pelo PM estão no depoimento que ele prestou à polícia após ser
preso em flagrante. O G1 teve acesso exclusivo ao
documento. A advogada foi encontrada morta na madrugada da última
quinta-feira (14) em um motel na cidade de Santo Antônio, a 70 quilômetros de Natal. O PM continua preso.
Ainda segundo o depoimento, Gleyson afirma ter passado boa parte do dia
anterior à morte da advogada bebendo com ela e que, a briga, teria sido
iniciada porque ele havia se recusado a revelar o nome da pessoa que
havia ligado para o celular dele. Também consta no relato do PM que ele
“não sabe como aquele pedaço de madeira foi aparecer no interior daquele
quarto”, acrescentando “que só depois da prisão começou a entender onde
se encontrava, mas que os policiais de serviço não deixaram mais que
ele entrasse no quarto”.
Trecho do depoimento do PM Gleyson Alex Galvão à polícia (Foto: Reprodução)
A família de Vanessa Ricarda não acredita que ela tenha ido se
encontrar com o suspeito para beber. Genilson Dantas, cunhado da
advogada, afirma que ela era evangélica e não consumia bebidas
alcoólicas. Ele também disse que acredita que Vanessa tenha ido se
encontrar com o policial militar sob ameaça. “Ele sempre dizia que iria
matá-la e que também mataria pessoas da família”, disse Genilson.
O cunhado revelou ainda que, sempre que Vanessa não atendia os
telefonemas do ex-namorado, ele procurava uma forma de pressioná-la.
“Algumas vezes ele foi à casa dos pais dela e exigiu para eles
telefonassem pra ela avisando que ele estava lá”, revelou. Genilson
contou também que Vanessa já havia dito que Gleyson iria planejar a
morte dela.
“Acredito que foi tudo arquitetado por ele”, afirmou Genilson,
acrescentando que “a família tem certeza de que o PM a coagiu a ir até a
fazenda onde ele estava e depois a levou a força para o motel”. Ainda
segundo o cunhado, o PM tinha uma arma, mas não a usou. “Justamente para
despistar o planejamento do crime”, afirmou. Genilson afirmou que
acredita que Gleyson Alex matou Vanessa Ricarda a pauladas para insinuar
que o crime teria ocorrido durante uma discussão, sem premeditação.
“Mas ele planejou, sim”, pontuou.
A família de Vanessa Ricarda de Medeiros disse que vai à delegacia de
Santo Antônio ainda nesta segunda-feira (18) para ter mais informações
sobre o caso e para recolher os pertences da vítima.
Gleyson Alex de Araújo Galvão está preso no quartel da PM em Nova Cruz, onde permanece à disposição da Justiça.
Familiares e amigos acompanharam o enterro
(Foto: Anderson Barbosa/G1)
(Foto: Anderson Barbosa/G1)
Entenda o caso
De acordo com a polícia, funcionários do motel onde a advogada foi
espancada acionaram a guarnição depois que escutaram uma discussão do
casal. “Eles ouviram a mulher gritando e nós fomos chamados”, contou o
tenente Everthon Vinício, do 8º Batalhão da PM, que atendeu a
ocorrência.
Ainda segundo o oficial, o PM foi encontrado na área comum do prédio
onde funciona o motel. O tenente contou também que Gleyson apresentava
sinais de embriaguez e manchas de sangue pelo corpo. “Ele vestia somente
um short, que estava todo sujo de sangue”, afirmou.
Ao entrarem no quarto, os policiais encontraram a advogada desacordada e
ensanguentada. “O rosto dela estava bastante desfigurado e os objetos
do quarto revirados”, relatou o delegado Everaldo Fonseca.
Segundo o capitão Fábio Sandrine, comandante do batalhão da PM na
cidade de Goianinha, onde o suspeito é lotado, o soldado Gleyson tem
sete anos de corporação. "Ele trabalhava na praia da Pipa, mas na semana
passada foi transferido para a cidade de Passagem. Só que ele não se
apresentou. Hoje de manhã recebemos esta triste notícia que ele havia
matado a namorada. Lamentável", comentou o oficial.
Mensagem telefônica revelada pela família
(Foto: Anderson Barbosa/G1)
(Foto: Anderson Barbosa/G1)
Mensagem no celular
A família da advogada Vanessa Ricarda de Medeiros afirmou que vai
apresentar ao Ministério Público o conteúdo de uma mensagem telefônica
que mostra que o soldado Gleyson Alex de Araújo Galvão perseguia a
ex-namorada desde o final do relacionamento.
Verbena Rúbia é irmã da vítima e também é advogada. Ela repassou o conteúdo da mensagem com exclusividade ao G1.
O texto data de 1º de janeiro deste ano e é assinado por Vanessa. Nele,
ela diz: “Evencia, minha querida como lhe disse meu ex namorad anda me
perseguind, preciso me distanciar dele! infelizmente nao posso continuar
em santo antonio. Peco sua compreensao. VANESSA” (sic).
Raimunda Medeiros, mãe de Vanessa
(Foto: Anderson Barbosa/G1)
(Foto: Anderson Barbosa/G1)
Enterro
O corpo da advogada foi enterrado na manhã da última sexta (15), na
comunidade de Santo Antônio da Cobra, distrito a 18 quilômetros de Parelhas, na região Seridó do Rio Grande do Norte.
O clima foi de revolta e comoção. Dezenas de amigos e parentes
acompanharam o cortejo pelas ruas da comunidade e pediram justiça.
Raimunda Tereza de Medeiros, mãe de Vanessa, disse ao G1 que
Gleyson fazia ameaças constantes, inclusive, indo até Santo Antônio da
Cobra, onde a família mora, para pressionar a ex-namorada. "Ele veio
aqui e ligou pra Vanessa. Disse que estava aqui com a gente. Acho que
para ameaçar ela, para que ela pensasse que ele poderia fazer algo de
ruim com a gente caso ela não falasse com ele", disse a mãe.
Preventiva
O Ministério Público divulgou nota informando que o promotor de Santo
Antônio, Mariano Paganini Lauria, pediu à Justiça que converta a prisão
em flagrante do policial militar Gleyson Alex de Araújo em prisão
preventiva. O soldado PM foi autuado pelo assassinato de Vanessa Ricarda
de Medeiros.
De acordo com a nota, o representante do MP afirma “ser imperiosa a
decretação da prisão preventiva do PM como forma de garantir a ordem
pública além da conveniência da instrução criminal”.
Para o promotor de Justiça de Santo Antônio, a decretação da custódia
cautelar se recomenda também pela gravidade concreta do delito, pela
violência do agente e pelo fato de que o agressor tentou se valer de sua
condição de policial militar para intimidar e ameaçar os “colegas de
farda” que atuaram na sua prisão.
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