Sobre Chávez, papa e o poder do messianismo



Até bem pouco, Bento 16 poderia disputar com Hugo Chávez o título de homem mais poderoso do planeta. Dois líderes messiânicos. Ambos aparentemente dotados de poderes vitalícios. Bem mais velho e saudável, o papa renunciou. E o mandachuva da Venezuela passou a disputar o troféu consigo mesmo.
Em Cuba desde dezembro, Chávez voltou para a Venezuela na madrugada desta segunda (18). Levaram-no para um hospital militar. Uma funcionária disse que o líder supremo chegou “caminhando, forte e não entubado.” Imagens? Nem pensar. Áudios? Esqueça.


O presidente da Venezuela, Hugo Chávez (Foto: Reuters)
 O tratamento do câncer roubou a voz do comandante.
Se pudesse falar, Chávez decerto evocaria Stalin e perguntaria: quantas divisões tem o papa? Num mundo em que o egoísmo triunfa, as exortações morais do Vaticano têm cada vez menos influência. As denúncias de lavagem de dinheiro no banco da Santa Sé e a renúncia de Bento 16 apenas potencializaram a impotência.
Chávez vive situação diametralmente oposta. Escassos 58 anos, guerreia contra um câncer misterioso. Ninguém sabe ao certo onde fica e que dimensões assumiu.  Invisível e afônico, continua sendo o tutor implícito do seu governo. Re-re-reeleito, não tomou posse. Mas a Suprema Corte guardou o assento e está pronta para lhe entregar.
Ou seja: se o poder absoluto significa permanecer no poder em qualquer circunstância sem dever nada a ninguém –muito menos explicações— Chávez será, pelo resto da vida, o homem mais poderoso que ele e seus seguidores conhecem. Livre da sombra do papa, Chávez tornou-se o primeirão do messianismo.
 do Blog do Josias e Blog a Tromba

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