Prefeitos de cidades que registrarem piora nos índices de qualidade
da educação podem ficar inelegíveis por cinco anos caso seja aprovada a
Lei de Responsabilidade Educacional, cujo texto deve ser apresentado
quarta-feira na Câmara Federal. O não cumprimento do gasto mínimo de
investimento na área e de critérios sobre infraestrutura também poderão
ser enquadrados na legislação.
O debate sobre responsabilidade educacional ganhou força
recentemente. Embora haja previsão legal para a oferta de um ensino de
qualidade, a inovação que aparece agora é a de determinar quais serão as
punições. Segundo especialistas, depois de décadas de esforço voltado
para universalização do acesso, é imprescindível criar mecanismos para
cobrar qualidade.
No Senado, o texto do Plano Nacional de Educação (PNE), que pode ir a
Plenário amanhã, ganhou trecho que fala da responsabilidade de gestores
em caso de não cumprimento das metas. “A experiência ensina que, no
Brasil, se não há responsabilização, as metas se transformam em farsa”,
disse o relator do PNE no Senado, Alvaro Dias (PSDB-PR).
Ideb. Já o texto que deve ser apresentado na Câmara na quarta-feira
estipula o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) como
critério – o que divide opiniões. “Nenhum prefeito poderá permitir o
retrocesso até atingir a meta do PNE”, diz o relator, deputado Raul
Henry (PMDB-PE). “Temos uma péssima realidade da educação, e as vítimas
não percebem que são vítimas porque não há pressão pela qualidade.”
Quase mil municípios, que representam 17% do total, apresentaram
retrocesso no Ideb 2011 no último ciclo do ensino fundamental. O projeto
não prevê metas para o ensino médio, uma vez que no nessa fase o índice
é por amostra.
O projeto elenca ainda uma série de parâmetros a serem alcançados,
que vão da existência de plano de carreira docente e respeito à Lei do
Piso até o atendimento de padrões construtivos das escolas. A gestão de
recursos também é citada: tanto a complementação de gastos na área pela
União como a omissão de prefeituras na adesão de convênios são passíveis
de enquadramento na lei. A esses casos, caberia ação civil.
“É fundamental esse próximo passo: definir as consequências quando o
direito social não é efetivado”, defende a diretora da ONG Todos pela
Educação, Priscila Cruz. De acordo com ela, a lei não deve ser uma caça
às bruxas e precisa prever excepcionalidades, como as contingências
orçamentárias.
Crítica ao projeto, a presidente da União Nacional dos Dirigentes
Municipais de Educação, Cleuza Repulho, diz que é preocupante que a
responsabilidade caia sobre os ombros dos prefeitos. “É inválida a ideia
de que o desafio na educação não é de recursos, mas apenas de gestão.” A
consultora em educação Ilona Becskeházy diz que é importante criar
responsabilidade, mas discorda do critério do Ideb. “A melhor maneira de
responsabilizar é expor os prefeitos que vão mal. Assim se busca a
maturidade na sociedade.”
Estadão/Tribuna do Norte/Blog a Tromba/Lee Dantas.
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