Veja o que diz o Jornalista Reinaldo Azevedo:
Confesso
que cheguei a achar que era piada, mas , percebo agora, não é. Não!
Pensa-se mesmo, a sério, em fazer de Renata Campos, a “Dona Renata”,
candidata a vice na chapa que será encabeçada por Marina Silva.
Dirigentes do PSB têm dito a interlocutores que será a seção de
Pernambuco do partido a decidir a vaga — que terá de contar com a
aprovação de Marina Silva.
Ai, ai,
ai… Eduardo Campos e Marina Silva sempre ancoraram a sua postulação numa
certa “nova política”. Mais de uma vez, indaguei aqui que novidade,
afinal de contas, era essa. Marina, ainda que tenha tido uma origem
pobre, de todos conhecida e bastante cantada em prosa, verso e
subprodutos míticos, fez política tradicional segundo o roteiro petista:
foi sindicalista, ajudou a fundar uma central de trabalhadores,
ligou-se a movimentos sociais, disputou eleições… O que há de tão novo
nisso?
Campos,
então, era tradicional a mais não poder: neto de político, filho de
políticos, vinha de uma tradição verdadeiramente fidalga, ainda que uma
fidalguia com viés de esquerda. Por mais que “Dona Renata”, como Campos
chamava a própria mulher, seja uma parceira de vida, uma militante
política, essa militância nunca se tornou notória ou notável além do
círculo doméstico. Seria candidata a vice de alguém que aparece em
primeiro lugar numa simulação de segundo turno, ainda que possa ser uma
situação transitória, por quê? Não faz sentido!
A menos
que estejamos de volta a uma espécie de atualização da política das
capitanias hereditárias, deem-me uma boa razão para que seja assim. Como
capitania hereditária não é, parece-me que podemos estar diante de algo
ainda pior: uma tentativa de fazer com que Campos, morto, possa render
os votos que, infelizmente, ele não tinha quando vivo.
Sinceramente,
acho tão estapafúrdia a saída que custo a acreditar que possa
prosperar. Mas o simples fato de a hipótese estar sendo tratada a sério
me parece constrangedora. O PSB tem até o dia 23 para definir a nova
chapa. É certo que Marina, que é da Rede, vai estar na ponta. O que se
espera é que seja alguém genuinamente do PSB a ocupar o lugar de vice,
quando menos para que a candidata se lembre dos compromissos que Campos
havia assumido.
Ora,
querem Renata por quê? Para que se somem duas pessoas sem nenhuma
experiência administrativa, mas com chances efetivas de vir a governar o
país? Se querem saber, preocupa-me menos isso ser pensado nos círculos
políticos de Pernambuco e do PSB do que a hipótese ser tratada pela
crônica política como algo corriqueiro e aceitável.
Parece-me
que boa parte dos políticos e da própria imprensa não está se dando
conta das dificuldades por que passa — e passará o país em 2015. Há
muita gente brincando com fogo. A projeção de crescimento para este ano
voltou a ser rebaixada, agora para 0,79%. A do ano que vem está pouco
acima de 1%. Fatores negativos tendem a convergir de forma ameaçadora. E
pessoas supostamente responsáveis vêm falar em Renata Campos como
candidata a vice de Marina, tendo como principal qualificação para tal
desafio ter sido mulher de Eduardo Campos?
Nada
contra esta senhora, que, a exemplo de quase 100% dos brasileiros, nem
conheço. Mas tenho tudo contra os fundamentos que levam a essa hipótese.
Seria bom ter um pouco mais de responsabilidade com os destinos do
Brasil.
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