Pela
primeira vez neste segundo turno, Dilma Rousseff aparece numericamente à
frente do tucano Aécio Neves em uma pesquisa Datafolha. A candidata à
reeleição soma agora 52% dos votos válidos, contra 48% do rival. Apesar
da mudança de posição, eles ainda estão tecnicamente empatados pela
margem de erro, de dois pontos percentuais.
Mais do que as
intenções de voto, porém, o instituto aponta um quadro um pouco mais
confortável para a petista nesta reta final: a aprovação do seu governo
chegou a 42%, o melhor desempenho desde os protestos de junho de 2013,
quando o índice despencou para 30%. A reprovação também caiu para 20%.
A
leitura mais óbvia é a seguinte: funcionou, ao menos até agora, o
esforço para reforçar o caráter plebiscitário da disputa. A estratégia
ficou clara sobretudo no debate de domingo, na TV Record, pautado na
comparação de números entre os governos petista e tucano. Dilma usou o
espaço para enfatizar os programas populares como o Prouni, o Pronatec e
o Minha Casa Minha Vida. E colocou em dúvida o futuro dos bancos
públicos, chamados por ela de motores do desenvolvimento, em caso de
vitória tucana.
A aprovação ao governo é captada por uma série de
manifestações em apoio à petista nesta reta final, após um silêncio
quase constrangido de quem, até a data final, se negava a defender
publicamente a candidata - entre os quais personalidades como Chico
Buarque. Coincide ainda com o aumento da artilharia sobre o candidato
tucano, hoje mais rejeitado que a rival (40% contra 39%).
Aécio
passara batido nas críticas mais contundentes durante boa parte do
primeiro turno em razão do favoritismo de Marina Silva, até então a
inimiga declarada do Planalto. Com as críticas centradas nela, o senador
mineiro ficava ileso – em um dos debates, foi praticamente ignorado
pelas então favoritas.
No início do segundo turno, ele ameaçou
abrir vantagem sobre a presidenta após o anúncio do apoio da família de
Eduardo Campos e da ex-candidata do PSB. Mas jamais ampliou a distancia
para além da margem de erro. Pelo contrário: o potencial de
transferência de votos de Marina, até o momento, tem sido menor do que o
esperado.
Agora, a cinco dias da eleição, o desempenho de Aécio
como governador de Minas, entre 2003 e 2010, é escrutinado pela campanha
rival. No debate realizado um dia antes da divulgação da pesquisa,
Dilma acusou Aécio de não ter investido o percentual mínimo exigido pela
Constituição em Saúde – a compra de vacina para cavalos foi computada
como investimento na área, citou a petista – e disse que sua única obra
era a construção de um centro administrativo que custou quase o triplo
da projeção inicial. As críticas pegaram no contrapé o discurso
apresentado pelo tucano até então: a de que, caso eleito, levaria um
modelo de gestão eficiente ao plano federal.
Antes, no debate SBT/Radio Jovem Pan/UOL de quinta-feira,
o candidato se viu obrigado a falar sobre a construção de um aeroporto
com dinheiro público em um terreno desapropriado da família. E a se
explicar sobre o fato de não ter feito o teste de bafômetro quando
parado em uma blitz da Lei Seca no Rio de Janeiro.
A troca de
acusações pessoais desgastou a imagem dos dois candidatos, que tiveram
de rever a estratégia no duelo seguinte. O fato é que Dilma, mais
conhecida e, portanto, com apoio mais cristalizado entre os que já
votavam nela, colocou os deslizes do adversário na vitrine e deixou com
ele o trabalho de se explicar. Ele optou por chama-la de mentirosa e de
promover a mais baixa campanha desde a reabertura democrática.
Dilma
recebeu críticas pesadas pelo tom apelativo do discurso, inclusive
deste blogueiro, mas de certa forma saía da defensiva sobre o caso
Petrobras. Isso em um momento em que o nome do ex-presidente do PSDB,
Sergio Guerra, aparecia entre os supostos favorecidos no esquema de
propina da estatal.
Era o prenúncio de que as cartas sobre
corrupção se anulariam. E que a ampliação da vantagem desenhada pelo
candidato tucano após o apoio de Marina começava a arrefecer. Em vez
disso, a campanha promete seguir disputada palmo a palmo até domingo.
Qualquer deslize, a partir de agora, pode ser definitivo. Esta eleição,
está bem claro, será decidida pelo voto da rejeição.
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