Sensus/IstoÉ é empresa de Clésio de Andrade, ex-vice de Aécio, é réu no mensalão tucano


 
Pesquisa divulgada neste sabádo pela revista Istoé aponta o tucano Aécio Neves com 58,8% dos votos válidos, contra 41,2% da presidente Dilma Rousseff; pesquisa foi concluída neste domingo e é a primeira a captar os efeitos das delações premiadas de Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef, que foram classificadas como "golpe" pela presidente Dilma e pela coordenação de campanha do PT; de acordo com o cientista político Ricardo Guedes, que controla o instituto Sensus, Aécio "já está eleito"
A pesquisa da IstoÉ/Sensus tem dono: o empresário mineiro Clésio Soares de Andrade. Presidiu a Confederação Nacional do Transporte (CNT) por 20 anos. Conquistou o cargo com uma trajetória empresarial cintilante. Aos 11 anos, começou a trabalhar como cobrador de ônibus. Aos 40, já tinha sua própria empresa de ônibus e uma transportadora de combustíveis. Nos anos 80, assumiu o sindicato das companhias do setor de Belo Horizonte. Ficou famoso ao articular para que os empresários controlassem os reajustes de tarifas. Quando assumiu a presidência da CNT, em 1993, encontrou uma instituição pobre e desprestigiada. Arregimentou seus liderados numa campanha para a criação do Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte e do Serviço Social do Transporte. Depois que eles foram instituídos, a CNT passou a receber parte dos tributos federais. Na última década, a receita obtida com essas taxas chegou a 1,2 bilhão de reais. Para dar notoriedade à sua lucrativa confederação e, afirmam seus inimigos, dar uma mãozinha a seus amigos políticos –, Clésio inventou de fazer pesquisas de opinião em setembro de 1998 – a última delas animou o debate político na semana passada.**
O dinheiro e a influência da CNT permitiram que Clésio ingressasse na vida pública, pelas portas do PFL. Também em 1998, tornou-se vice na chapa do ex-governador mineiro Eduardo Azeredo, do PSDB. Mas só chegou ao posto em 2003, como vice de outro tucano, Aécio Neves. Clésio, que atualmente é filiado ao PL, construiu seu caminho na política com a ajuda do lobista Marcos Valério Fernandes de Souza, o carequinha do mensalão. Marcos Valério era um desconhecido consultor financeiro quando abordou Clésio em uma caminhada na orla da Lagoa da Pampulha, em Belo Horizonte.
– O senhor é o doutor Clésio Andrade?
– Sou, por quê?
– Tenho um negócio a lhe propor. Os donos da agência de publicidade SMPB estão procurando um sócio capitalista...
O carequinha convenceu Clésio a comprar 50% da SMPB e da DNA e dar-lhe uma parte das cotas. Em retribuição, o lobista introduziu o sócio nos segredos da política. Clésio encerrou a sociedade com Valério quando passou a disputar eleições. Para evitar denúncias de favorecimento às agências, vendeu suas participações aos sócios. Não foi o suficiente para que se mantivesse longe dos escândalos.
Ele responde a um processo no qual é acusado de superfaturar em sete vezes o valor de uma fazenda dada em garantia a um empréstimo bancário contraído pela SMPB. A CPI dos Correios investiga a transferência de 1,4 milhão de reais da DNA e da SMPB para um braço da CNT chamado Idaq. Em outro processo, Clésio é acusado de utilizar o mesmo Idaq para lavar dinheiro.
Nos últimos 20 anos, Clésio foi sócio de, pelo menos, quarenta empresas. Hoje, participa de dez companhias e três holdings. Aos 53 anos, é um homem rico, mas encontra dificuldade para explicar o sobe-e-desce oficial de seu patrimônio. Em 1998, declarou à Justiça Eleitoral que seus bens somavam 102 milhões de reais. Por algum motivo desconhecido, esse patrimônio encolheu para 10,3 milhões em 2002. Clésio diz que agora tem 50 milhões de reais. O que aconteceu para que sua fortuna passasse pelo efeito sanfona? "Desisti de uns negócios e tomei um cano do Marcos Valério, que não me pagou pela DNA e pela SMPB", diz. Ultimamente, o carequinha é culpado de tudo.

Processo contra Clésio Andrade corrói a campanha de Aécio Neves

O depoimento do ex-senador Clésio Andrade, outrora poderoso vice-governador de Minas Gerais, na gestão do tucano candidato à Presidência da República, Aécio Neves, aparenta ser a gota de vinagre que faltava na campanha do PSDB ao Planalto. Foi descoberta pela Polícia Civil do Distrito Federal, na Operação São Cristóvam, uma roubalheira de mais de R$ 20 milhões dos cofres públicos, aparentemente liderada por Andrade, que participava dos esforços para a condução de Neves ao Planalto, ainda que discretamente. A Polícia Federal, que participa das investigações, ainda não calculou em que medida ocorria esta participação, mas já havia um “racha no PSDB sobre a estratégia de campanha”, segundo o cientista político Antonio Lassance, em artigo publicado na véspera.
Segundo o cientista político, “o resultado foi catastrófico. Aécio começou a ser “cristianizado” (abandonado pelos eleitores e por aliados). O tucano despencou nas intenções de voto e correu o risco de protagonizar a pior campanha do PSDB desde 1989. Arriscou passar pelo vexame de ficar em terceiro até mesmo em Minas Gerais. Em seu ouvido martelaram o avesso do slogan brizolista: ‘quem conhece o Aécio não vota no Aécio’. A reação veio em seguida. Aécio percebeu que, se não batesse em Marina, não se recuperaria. Deu certo”.
“Da experiência, aprendeu que, não só para FHC, como para toda a ala majoritária do PSDB – a paulista -, ele, Aécio, não passa de um detalhe, um pouco maior ou um pouco menor. Para o PSDB paulista, quanto mais dócil ele estiver, mais tranquila será a negociação com Marina. Quanto menor Aécio estiver em um primeiro turno, menos peso ele terá na barganha do segundo turno. Maior importância terá a pauliceia desvairada.
Quanto menor ele ficar em 2014, mais remota será sua chance de rivalizar com Alckmin em 2018, na escolha do candidato preferencial do PSDB. Enfim, o que o atual candidato tucano percebe é que, para quem manda no PSDB, quanto menos Aécio, melhor”, acrescentou. “Tomando duas referências históricas do PMDB que o candidato bem conhece, veremos se Aécio tem mais vocação para o Tancredo de 1984, que uniu o partido em torno de seu nome, ou para o Ulisses de 1989, abandonado pelos próprios correligionários em pleno primeiro turno”, propõe Lassance.

Última gota

Estabelecido o caldeirão de ácido em que se debate a campanha tucana, a última gota caiu na noite passada, com o depoimento do ex-senador Clésio Andrade ao Ministério Público em Minas Gerais (MP/MG) sobre seu envolvimento no esquema de desvio de recursos do Sistema Social do Transporte (Sest) e do Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (Senat). Havia um mandato de condução coercitiva de Clésio, que é ex-presidente da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), mas ele não estava sendo encontrado para ser levado à delegacia.
O delegado adjunto da Divisão Especial de Repressão ao Crime Organizado (Deco), Luís Fernando Cocito de Araújo, disse que o teor do depoimento do ex-senador será conhecido pelos investigadores, na Capital Federal, na semana que vem. A reportagem do Correio do Brasil tentou contato com a assessoria do MP/MG, neste sábado, mas não obteve o retorno das ligações.
– Existe uma clara divisão de tarefas e, ao que tudo indica, comandada por um ex-senador da República – afirmou o o delegado Luís Fernando Araújo, em coletiva de imprensa, referindo-se a Clésio Andrade. Segundo o delegado, com o depoimento de Clésio Andrade fica faltando apenas um mandado de condução coercitiva para ser cumprido, sobre uma pessoa em Brasília. Não há nenhuma outra medida contra Andrade até o momento.
– Não existe nenhuma outra cautelar, a não ser essa de condução coercitiva. O que foi feito é uma solicitação de indisponibilidade de bens, que não foi apreciada ainda pelo Ministério Público e pelo Poder Judiciário. Aguardamos ainda a decisão sobre a medida para que esses bens não desapareçam – disse a autoridade policial.
Segundo a polícia, o desvio de dinheiro ocorreu por meio de pagamentos elevados de gratificações a integrantes da diretoria e de contratações fraudulentas de serviços de autônomos. Parte desses recursos podem ter seguido para campanhas eleitorais, segundo policiais que investigam o caso. A Controladoria-Geral da União (CGU) constatou que os rendimentos e patrimônios das integrantes da diretoria do Sest/Senat são incompatíveis com os salários pagos. A justificativa apresentada pela direção da CNT é que o elevado valor recebido anualmente pelas diretoras deve-se ao pagamento de gratificações. A outra forma de desvio são serviços de fachada, contratados por valores superfaturados a pessoas com ligações na diretoria. Em muitos casos, os serviços sequer foram prestados.
Na operação, a polícia cumpriu 21 mandados de busca e apreensão, em Brasília e Minas Gerais. Inicialmente, foi presa Maria Pantoja, diretora executiva do Sest/Senat entre 1995 e 2013, que hoje trabalha em outra instituição vinculada à CNT. Também foram detidas Ilmara Chaves, coordenadora de Administração; Anamary Socha, assessora especial da Diretoria Executiva; e Jardel Soares, coordenadora de Contabilidade. Conforme a Polícia Civil do Distrito Federal, entre 25 e 30 pessoas podem estar envolvidas no esquema. Na operação, foram apreendidos 16 veículos, entre eles alguns carros de luxo, e dois cofres.
O fato de Andrade ser um político influente no Estado de Aécio Neves, ainda que nas sombras, desde o seu envolvimento com o conhecido ‘mensalão tucano’ e a renúncia ao mandato no dia 15 de Julho último, leva o eleitor a desconfiar do discurso moralista tucano e, como lembrou o professor Antonio Lassance: “Quem diria? Depois de ter acusado a candidata Luciana Genro (PSOL) de ser ‘linha auxiliar’ do PT (‘uma ova’, respondeu Genro, na lata), quem ficou a meio caminho de se tornar linha auxiliar de alguém é o próprio Aécio”.

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