Os candidatos presidenciais participam do Ășltimo debate da campanha
preparados por sua equipe para evitar "gol contra", passar uma imagem de
confiança e mostrar habilidade de "esgrima" - de atacar e responder com
contra-ataques -, na opiniĂŁo de especialistas consultados pela BBC
Brasil.
Dada a importĂąncia do
debate da TV Globo, visto como "Ășltimo round" na reta final para o
primeiro turno no domingo, acredita-se que cada candidato reserve um dia
inteiro de preparação, incluindo a formulação de estratégias de
comportamento, de ataque e resposta, além dos cuidados com roupas,
acessórios e maquiagem e da atenção ao gestual e linguagem corporal.
"Ninguém
vai fazer nada que nĂŁo tenha sido detectado em pesquisas de opiniĂŁo",
explica Carlos Manhanelli, presidente da Associação Brasileira de
Consultores PolĂticos. "Se os ataques estiverem sendo vistos com maus
olhos pela população, essa não serå a estratégia. Agora se atacar for o
Ășltimo recurso, certamente nĂŁo haverĂĄ hesitação".
Seis pontos sĂŁo
destacados pelos entrevistados como de maior relevĂąncia para os
candidatos durante o debate: tranquilidade, segurança, linguagem
corporal e expressĂŁo facial, "fazer a ponte", capacidade de "esgrima"
(ataque e contra-ataque), demonstração de vontade e compromisso, e
humildade.
Na visĂŁo deles, ganha pontos entre os eleitores quem
mantiver a calma mesmo quando desafiado, e quem demonstrar segurança
acima de tudo: a caracterĂstica que mais define o sucesso de um
candidato num debate como esse.
A
"ponte" se refere Ă capacidade do candidato de, ao receber uma pergunta
complicada, acatar a questĂŁo, mas rapidamente ligar o assunto a outro
de seu domĂnio, para que passe a falar sobre este assunto, mesmo que
completamente diferente, e defenda seu programa de governo.
Com mais de 40 anos de experiĂȘncia em campanhas, Manhanelli diz que esse debate requer estratĂ©gias para cada bloco.
"Tudo
pode mudar. O momento de atacar, a hora de se blindar ou de se colocar
como vĂtima para ganhar a simpatia e cooptar votos. Com certeza as
equipes estarão atentas a tudo para aproveitar esta exposição ao eleitor
da melhor maneira possĂvel."
Gafes e imprevistos
Apesar
da proximidade com o dia da votação, os especialistas dizem que
imprevistos, surpresas, uma grande gafe ou uma performance muito ruim
neste Ășltimo debate ainda podem alterar intençÔes de voto – daĂ o nĂvel
de preocupação das campanhas.
"Se terminar no 0 a 0, tudo bem,
permanece o cenĂĄrio consolidado", argumenta Ricardo Ismael, doutor em
CiĂȘncia PolĂtica pelo Iuperj e professor da PUC-Rio. "Agora se um deles
marcar um gol contra, ou caso algum saia-se muito bem, pode haver
impacto, sim".
Para os especialistas, os eleitores percebem
detalhes do desempenho de cada candidato, de como se esquivam de
perguntas difĂceis, de como gesticulam, o tom de voz e o controle do
nervosismo.
"Perguntas ruins sempre serĂŁo feitas. O diferencial Ă© o
quanto vocĂȘ foi preparado para lidar com isso, e o nĂvel de
transparĂȘncia, de como os outros vĂŁo perceber ou nĂŁo. Ă importante nĂŁo
perder o eixo", complementa Carlos Manhanelli.
Para o professor
Paulo SĂ©rgio de Camargo, autor do livro Linguagem Corporal (Editora
Summus, 2010), a presidente Dilma Rousseff tem sido a candidata "que tem
demonstrado mais estresse, a ponto de quase perder as estribeiras
quando contrariada por jornalistas em entrevistas na televisĂŁo".
"Marina
Ă© a mais resiliente, e que teve que alterar o visual e o gestual de
forma mais drĂĄstica, e AĂ©cio tem sido o mais constante, o que manteve o
mesmo tom", avalia.
Camargo diz que o desafio comum a todos os candidatos serå transmitir confiança.
"Dilma
tem falado com queixo erguido, o que passa arrogĂąncia, nĂŁo Ă© bom. Se
irrita com qualquer pergunta, faz caras e bocas e nĂŁo consegue esconder
que aumentou seu nĂvel de ansiedade. Marina tem os ombros arcados, passa
fragilidade. Seu desafio no debate serå passar a imagem de alguém forte
o suficiente para ser presidente. Jå Aécio precisa de mais emoção, mais
gestos", diz.
Para esta quinta, analistas preveem que Dilma siga
uma estratégia focada em ataques contra Marina. "Na visão da campanha do
PT ainda Ă© mais interessante disputar o segundo turno com AĂ©cio, que Ă©
um inimigo conhecido", diz Carlos Pereira, da FGV-Rio.
Na pesquisa
divulgada pelo Datafolha na noite de terça-feira, no primeiro turno
Dilma aparece com 40%, Marina com 25% e AĂ©cio com 20%.
Numa
simulação de segundo turno entre Dilma e Marina, a atual presidente
ganha por 49% a 41%, e se a disputa ocorrer com AĂ©cio, a petista
venceria por 50% a 41%.
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