Tudo pronto para o Ășltimo debate

Candidatos em debate em 16 de setembro (EPA)
Os candidatos presidenciais participam do Ășltimo debate da campanha preparados por sua equipe para evitar "gol contra", passar uma imagem de confiança e mostrar habilidade de "esgrima" - de atacar e responder com contra-ataques -, na opiniĂŁo de especialistas consultados pela BBC Brasil.
Dada a importĂąncia do debate da TV Globo, visto como "Ășltimo round" na reta final para o primeiro turno no domingo, acredita-se que cada candidato reserve um dia inteiro de preparação, incluindo a formulação de estratĂ©gias de comportamento, de ataque e resposta, alĂ©m dos cuidados com roupas, acessĂłrios e maquiagem e da atenção ao gestual e linguagem corporal.
"NinguĂ©m vai fazer nada que nĂŁo tenha sido detectado em pesquisas de opiniĂŁo", explica Carlos Manhanelli, presidente da Associação Brasileira de Consultores PolĂ­ticos. "Se os ataques estiverem sendo vistos com maus olhos pela população, essa nĂŁo serĂĄ a estratĂ©gia. Agora se atacar for o Ășltimo recurso, certamente nĂŁo haverĂĄ hesitação".
Seis pontos são destacados pelos entrevistados como de maior relevùncia para os candidatos durante o debate: tranquilidade, segurança, linguagem corporal e expressão facial, "fazer a ponte", capacidade de "esgrima" (ataque e contra-ataque), demonstração de vontade e compromisso, e humildade.
Na visão deles, ganha pontos entre os eleitores quem mantiver a calma mesmo quando desafiado, e quem demonstrar segurança acima de tudo: a característica que mais define o sucesso de um candidato num debate como esse.
A "ponte" se refere Ă  capacidade do candidato de, ao receber uma pergunta complicada, acatar a questĂŁo, mas rapidamente ligar o assunto a outro de seu domĂ­nio, para que passe a falar sobre este assunto, mesmo que completamente diferente, e defenda seu programa de governo.
Com mais de 40 anos de experiĂȘncia em campanhas, Manhanelli diz que esse debate requer estratĂ©gias para cada bloco.
"Tudo pode mudar. O momento de atacar, a hora de se blindar ou de se colocar como vítima para ganhar a simpatia e cooptar votos. Com certeza as equipes estarão atentas a tudo para aproveitar esta exposição ao eleitor da melhor maneira possível."

Gafes e imprevistos

Apesar da proximidade com o dia da votação, os especialistas dizem que imprevistos, surpresas, uma grande gafe ou uma performance muito ruim neste Ășltimo debate ainda podem alterar intençÔes de voto – daĂ­ o nĂ­vel de preocupação das campanhas.
"Se terminar no 0 a 0, tudo bem, permanece o cenĂĄrio consolidado", argumenta Ricardo Ismael, doutor em CiĂȘncia PolĂ­tica pelo Iuperj e professor da PUC-Rio. "Agora se um deles marcar um gol contra, ou caso algum saia-se muito bem, pode haver impacto, sim".
Para os especialistas, os eleitores percebem detalhes do desempenho de cada candidato, de como se esquivam de perguntas difĂ­ceis, de como gesticulam, o tom de voz e o controle do nervosismo.
"Perguntas ruins sempre serĂŁo feitas. O diferencial Ă© o quanto vocĂȘ foi preparado para lidar com isso, e o nĂ­vel de transparĂȘncia, de como os outros vĂŁo perceber ou nĂŁo. É importante nĂŁo perder o eixo", complementa Carlos Manhanelli.
Para o professor Paulo SĂ©rgio de Camargo, autor do livro Linguagem Corporal (Editora Summus, 2010), a presidente Dilma Rousseff tem sido a candidata "que tem demonstrado mais estresse, a ponto de quase perder as estribeiras quando contrariada por jornalistas em entrevistas na televisĂŁo".
"Marina Ă© a mais resiliente, e que teve que alterar o visual e o gestual de forma mais drĂĄstica, e AĂ©cio tem sido o mais constante, o que manteve o mesmo tom", avalia.
Camargo diz que o desafio comum a todos os candidatos serå transmitir confiança.
"Dilma tem falado com queixo erguido, o que passa arrogùncia, não é bom. Se irrita com qualquer pergunta, faz caras e bocas e não consegue esconder que aumentou seu nível de ansiedade. Marina tem os ombros arcados, passa fragilidade. Seu desafio no debate serå passar a imagem de alguém forte o suficiente para ser presidente. Jå Aécio precisa de mais emoção, mais gestos", diz.
Para esta quinta, analistas preveem que Dilma siga uma estratégia focada em ataques contra Marina. "Na visão da campanha do PT ainda é mais interessante disputar o segundo turno com Aécio, que é um inimigo conhecido", diz Carlos Pereira, da FGV-Rio.
Na pesquisa divulgada pelo Datafolha na noite de terça-feira, no primeiro turno Dilma aparece com 40%, Marina com 25% e Aécio com 20%.
Numa simulação de segundo turno entre Dilma e Marina, a atual presidente ganha por 49% a 41%, e se a disputa ocorrer com Aécio, a petista venceria por 50% a 41%.

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