Dirigentes da CBF teriam usado paraĆ­sos fiscais para propinas, apontam documentos

Dirigentes da CBF teriam usado paraĆ­sos fiscais para propinas, apontam documentos        

Foto: Reprodução / Facebook
Dirigentes da Confederação Brasileira Futebol (CBF) teriam usado empresas e contas em paraĆ­sos fiscais para distribuir propinas de contratos comerciais. Ɖ o que apontam uma sĆ©rie de documentos, contratos e e-mails obtidos pelo jornal O Estado de S. Paulo. Os papĆ©is revelam como, supostamente, empresas no exterior eram propostas como forma de fechar acordos e, ao mesmo tempo, garantir um canal de pagamento para propinas. Uma delas Ć© a ISE, empresa de fachada criada por investidores Ć”rabes da gigante DAG nas ilhas Cayman e que conta apenas como uma caixa postal. Contratos para a realização dos amistosos do Brasil atĆ© 2022 foram fechados com a empresa e a CBF, em nota, afirmou que nĆ£o tinha o poder de definir onde a parceira deve ter sua sede. Segundo um informe da consultoria KPMG, a ISE ainda teria sido responsĆ”vel por pagamentos de propinas a Mohamed Bin Hammam, o ex-vice-presidente da Fifa e que tentou derrubar Blatter do poder na entidade.


Foto: Andre Penner/AP

Um dos contratos obtido pelo Estado mostra a forma pela qual parte da renda dos amistosos eram supostamente desviadas. A ISE fechou um acordo para negociar 24 amistosos com a empresa Uptrend Development LLC, com sede em Nova Jersey, nos EUA. Em nome da empresa nos Estados Unidos, de propriedade de Sandro Rosell Feliu, ex-presidente do Barcelona, ex-representante da Nike no Brasil e indiciado por crimes fiscais na Espanha, eram repassados para a ISE como lucros da partida cerca de US$ 1,6 milhĆ£o. Desse total, US$ 1,1 milhĆ£o seguia para a CBF como pagamento pelo cachĆŖ. Mas o restante nĆ£o era contabilizado para a entidade. Os papĆ©is mostram que US$ 450 mil seriam encaminhados para contas nos EUA, em uma empresa de propriedade de Rosell, aliado de Ricardo Teixeira em dezenas de projetos comerciais. No total, o contrato aponta que, por 24 jogos, o valor previsto para o pagamento seria de 8,3 milhƵes de euros (US$ 10,9 milhƵes) para a empresa nos EUA. Dividido por 24 jogos, esse valor seria de US$ 450 mil. A Nike e Teixeira tambĆ©m estĆ£o no foco do Departamento de JustiƧa dos EUA, que apontam para um pagamento em uma conta na SuƭƧa de US$ 40 milhƵes. No indiciamento dos dirigentes, documento insinua que um cartola do alto comando da CBF e membro do ComitĆŖ Executivo da Fifa estaria envolvido em uma negociação com uma empresa de roupas esportivas dos EUA.

Foto: Divulgação
Em nota a Nike, a empresa afirma que estĆ” ajudando as autoridades. "Como todos os nossos fĆ£s ao redor do mundo, nós somos apaixonados pelo jogo e estamos preocupados com essas acusaƧƵes muito sĆ©rias. A Nike acredita fortemente em Ć©tica e fair play tanto nos negócios como no esporte, e repudia fortemente toda e qualquer forma de manipulação ou propina. Nós jĆ” estamos cooperando, e seguiremos cooperando, com as autoridades." GravaƧƵes ainda mostram que Ricardo Teixeira manteve contas secretas em MĆ“naco, avaliadas em R$ 100 milhƵes. A informação foi revelada pelo jornal eletrĆ“nico francĆŖs Mediapart, como parte de uma investigação conduzida sobre o banco Pache, uma filial do grupo Credit Mutuel. O caso estaria sendo investigado pelas autoridades monegascas por lavagem de dinheiro, num processo conduzido pelo juiz Pierre Kuentz. Em gravaƧƵes realizadas pela JustiƧa, o nome de Teixeira Ć© citado pelo diretor do banco, Jürg Schmid. "Nós, no banco Pasche, devemos provavelmente aceitar clientes que outros bancos certamente nĆ£o aceitariam. Eu tenho um, o grande brasileiro", afirma, se referindo a Teixeira. "Eu sei muito bem que nenhum outro banco de MĆ“naco queria abrir uma conta dele", disse. "Nos fizemos tudo, jĆ” que temos a declaração de imposto e a declaração dos tribunais que dizem que ele nĆ£o foi condenado", declarou. "Evidentemente, ele Ć© conhecido, mundialmente conhecido", afirmou. O banqueiro chegou a dar explicaƧƵes sobre a origem do dinheiro. "Sabemos que ele recebeu dinheiro em troca de favores, mas nĆ£o sĆ£o polĆ­ticos", disse. "Decidimos juntos que nós o receberĆ­amos porque ele nos traz 30 milhƵes de euros e isso nĆ£o Ć© pouco", finaliza Schmid nas gravaƧƵes.
por Jamil Chade | Estadão Conteúdo