A reunião do Conselho de Ética voltada para colher o depoimento do
presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) foi marcada por
tumulto e gritaria envolvendo aliados de Cunha. Em determinado momento, a
reunião chegou a ser interrompida, após um bate-boca iniciado pelo
deputado Wladimir Costa (SD-PA), aliado de Cunha, ter atacado o deputado
Julio Delgado (PSB-MG).
Costa, que é do mesmo partido do
deputado Paulo da Força (SD-SP), defendeu Cunha, afirmando que não
estava provado que o presidente afastado da Câmara mentiu na CPI da
Petrobras sobre ter contas na Suíça, e que se o conselho tivesse que
cassar Cunha também teria que cassar o mandato de Delgado (PSB-MG).
“Se
for tratar de mentira, o nobre e atuante parlamentar, falando que não
recebeu dinheiro da UTC, que não recebeu dinheiro da Lava Jato”, disse
Costa, que acusou Delgado de ter recebido R$ 100 mil reais, com base na
delação do dono da empresa, Ricardo Pessoa. “”Se for realmente ter que
cassar o Eduardo Cunha por mentir em CPI, vamos ter que cassar uma
pessoa que eu não quero, eu antecipo”, emendou.
Houve tumulto, e o
presidente do colegiado, José Carlos Araújo, pediu ordem e disse que o
representado no colegiado é Cunha, e não Delgado. “Que moral o senhor
vai ter para cobrar de alguém? Se eu fosse o senhor, alegava a sua
suspeição, saía logo daqui para contratar um advogado”, continuou Costa.
”Olhe a sua trajetória aqui, quem é vossa excelência, é um absurdo ter
que ouvir isso”, rebateu Delgado.
Após outros deputados terem
questionado Cunha, Delgado tomou a palavra e se defendeu. “Eu não recebi
dinheiro da UTC, reafirmo isso aqui. Não recebi dinheiro na minha
conta”, disse, mostrando as prestação de contas de sua campanha.
O
deputado lembrou que a denúncia foi alvo de investigação da Polícia
Federal e do Ministério Público, que pediu o arquivamento da
investigação na última semana. “Fui alvo de uma investigação em que o
titular foi o Ministério Público e pelo procurador, que acabaram pedindo
o seu arquivamento”, disse. “É totalmente infundada essa tentativa de
nos constranger a respeito de nossa conduta”, concluiu.
Antes,
outro aliado de Cunha, o deputado Carlos Marun (PMDB-MS) também causou
tumulto, após ter criticado os questionamentos do deputado Betinho Gomes
(PSDB-PE). O deputado questionou Cunha sobre o fato de o Ministério
Público da Suíça ter aberto investigação contra Cunha. “Diante do que
informou o MP da Suíça, de que Cunha e sua mulher são donos de quatro
contas no banco Julius Baer, não resta dúvida de que elas deveriam ser
declaradas [no Imposto de Renda]”, disse.
O deputado Marun também
disse que Cunha mentiu na CPI ao afirmar não conhecer o empresário,
Fernando Soares, o baiano. Em depoimento no Conselho de Ética, Baiano
disse ter entregue R$ 4 milhões no escritório de Cunha, fruto de propina
envolvendo o esquema investigado na operação Lava Jato. “Ele [Baiano]
fala claramente que entregou recursos de operação feitas na Petrobras, e
que estão sendo investigados na Lava Jato”, disse Gomes. “Para mim,
isso deixa claro que fica passível a conduta de falta de decoro
parlamentar”, acrescentou.
A reunião foi interrompida por Marun,
que contestou a fala de Gomes. “Eu não tenho a obrigação de escutar algo
que eu não considero verdade”, disse. “Tem sim, deputado, o senhor tem
que escutar com respeito o que os outros deputados falam”, rebateu
Gomes.
Logo no começo da sessão, que começou às 9h37, o deputado
Laerte Bessa (PR-DF) e Ivan Valente (PSOL-SP) trocaram ofensas. Apesar
do incidente, a sessão continuou. Posteriormente, a assessoria de Ivan
Valente disse que o deputado pediu ao relator esclarecimentos técnicos
sobre truste quando foi xingado pelo deputado Laerte Bessa. Em resposta,
Ivan Valente se dirigiu ao deputado com um "cala a boca, imbecil". O
depoimento de Cunha segue no Conselho de Ética.
com informações nominuto.com