Tudo indica que o vazador das conversas de Sérgio Machado é o próprio Sérgio Machado.
Machado acabou, com isso, causando um curto circuito na Lava Jato. O
primeiro a se manifestar foi o delegado Igor Romário de Paula. “O que
nos preocupa somente é que isso (os áudios) venha a público dessa forma,
sem que uma apuração efetiva tenha sido feita antes”, afirmou ele,
segundo o Globo.
Igor está dizendo que há vazamentos bons e ruins. Os primeiros são os
que são feitos pela própria PF. Dias depois, foi Sergio Moro quem deu
detalhe.
Apresentou-se num simpósio de direito constitucional em Curitiba e
criticou os projetos de lei sobre a delação premiada em tramitação no
Congresso — os dois, sintomaticamente, de autoria do deputado petista
Wadih Damous.
“Eu fico me indagando se não estamos vendo alguns sinais de uma
tentativa de retorno ao status quo da impunidade dos poderosos”, falou
Moro.
Moro, de acordo com o Estadão, achou “coincidência” que o autor seja
do PT. “A corrupção existe em qualquer lugar do mundo. Mas é a corrupção
sistêmica não é algo assim tão comum.”
Nem uma palavra sobre as tentativas explícitas de gente como Jucá e
Sarney barrarem as investigações através de um impeachment. Nem um
mísero muxoxo sobre o que foi revelado nos papos de Machado.
O fato é que os áudios de Sérgio Machado quebraram as pernas da
história oficial do time de Moro. Até ele surgir na Folha, toda a
narrativa da LJ estava nas mãos dos delegados, que vazavam para a
imprensa o que a mídia desejava — ou seja, a criminalização do governo
Dilma e do projeto petista de corrupção sistêmica.
Não custa lembrar o que Moro escreveu em seu ensaio sobre a Mãos
Limpas. “Os responsáveis pela operação mani palite ainda fizeram largo
uso da imprensa”, ele registra. “Tão logo alguém era preso, detalhes de
sua confissão eram veiculados no ‘L’Expresso’, no ‘La Republica’ e
outros jornais e revistas simpatizantes.”
Sérgio Machado quer atrelar o caso dele aos de Renan Calheiros e de
Romero Jucá e ficar no STF. No caminho, tirou de Moro o manto de dono da
verdade. A rapinagem, os acordos, os corruptos são suprapartidários. A
questão é mais complexa.
Ele não é qualquer um. Machado foi um cardeal do PSDB, líder do
partido no Senado, braço direito de Tasso Jereissati e próximo de FHC.
Foi companheiro do Tasso no CIC (Centro Industrial do Ceará), que
pariu o pensamento do jovem empresariado cearense e em 1986 derrotou os
coronéis e promoveu uma mudança no estado.
Orgulhava-se de ter sido o mais longevo presidente da Transpetro, o
braço logístico da Petrobras. Foi tucano por dez anos, até migrar para o
PMDB. “Renan, eu fui do PSDB dez anos, Renan. Não sobra ninguém,
Renan”, afirmou.
Por isso, Aécio, por exemplo, sabe que está frito. Não só ele, evidentemente.
Machado implodiu o conto de terror que Moro e seus agentes estavam
tocando com sucesso. O controle foi perdido para sempre. Os mocinhos
continuam em falta, mas o número de bandidos ficou do tamanho do Brasil.
De tabela, ajudou a destruir o governo do interino pelos intestinos —
a pá de cal, já que Michel e seus capangas são garantia de tiro no pé
todos os dias.