Veja uma lista com as principais façanhas do trio de promotores que tentou prender o ex-presidente
O trio de promotores estaduais de São Paulo José Carlos Blat, Cássio
Conserino e Fernando Henrique Araújo, que pediram a prisão do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por uma rejeitada acusação de
Obstrução da Justiça, não conseguem manter seus nomes longe da imprensa,
tal a capacidade dos três em se envolver em polêmicas e confusões.
Desde que pediram a prisão de Lula – rapidamente negada pela Justiça –
eles já se declararam suspeitos de conduzir as uma investigação sobre o
ex-presidente, já foram acusados pela Justiça de forjar flagrante em
outro processo investigatório, já confundiram publicamente nomes de
filósofos conhecidos e até protagonizaram um “barraco” nada protocolar
com uma juíza do Tribunal de Justiça de São Paulo.
Veja, abaixo, uma lista com as principais façanhas do trio que tentou prender o ex-presidente Lula.
– Pedidos esdrúxulos em casos de repercussão
Sempre em busca de holofotes, José Carlos Blat é conhecido por atuar
em casos envolvendo figuras públicas ou assuntos que causam comoção
geral. Ele já atuou em casos como da Favela Naval, da Máfia dos Fiscais
e, mais recentemente, da Bancoop, a cooperativa habitacional dos
bancários que enfrentou problemas financeiros e acabou por vender alguns
de seus empreendimentos à construtora OAS.
No caso da Bancoop (que, por uma derivação criada pelos promotores,
acabou por levar ao pedido de prisão de Lula), alguns de seus pedidos
foram de tal forma draconianos que geraram espanto do juiz que os
apreciou, como pode ser lido neste trecho da decisão judicial negando
pedidos de Blat, datada de abril de 2012:
“A partir do momento em que este inquérito passou a ter tamanha
repercussão política, é preciso que cada decisão ou providência tomada
esteja ainda mais firmemente embasada em elementos de prova e de
direitos sólidos e claros. Quanto ao item 6 (bloqueio imediato de todas
as contas bancárias, fundos e aplicações da Bancoop), observo que é
manifesto seu descabimento e despropósito nestes autos, sendo de rigor o
pronto indeferimento.”
– Suspeita de forjar flagrante contra dono de boate
Na mais recente confusão em que se meteu, José Carlos Blat se tornou
suspeito de forjar um flagrante contra Oscar Maroni, dono da boate
Bahamas. Há sete anos, Maroni era acusado por Blat de coagir
testemunhas. Agora, ao fim do processo, Maroni foi inocentado, enquanto o
promotor passou para o papel de acusado de ter forjado um flagrante.
Maroni era acusado crimes de favorecimento à prostituição e manutenção de local destinado a encontros libidinosos. Ele chegou a ser preso em flagrante, com o carro estacionado em frente ao prédio da mulher que iria depor contra ele, sua ex-namorada Vivian Milczewsky.
Durante o processo da 5ª Vara, no qual Blat atuava, Vivian disse que o
empresário estava fazendo ameaças para ela não testemunhar. Apresentou
mensagens de celular e áudios como provas.
Mas, na hora de testemunhar em frente ao juiz, Vivian falou o
contrário do que Blat afirmava que ela iria dizer: disse que não sofreu
nenhuma pressão, que se falou o contrário foi para se vingar de Maroni,
que o promotor tinha elaborado um plano junto com ela para que o
empresário fosse preso.
Diante disso, até a promotora que atuava no caso junto com Blat pediu
a absolvição de Maroni. A juíza Tatiana Vieira Guerra acolheu pedido de
defesa e da acusação e, atendendo a pedido da promotora, a juíza pediu à Procuradoria-Geral de Justiça que a entidade investigue as acusações feitas contra o promotor José Carlos Blat.
– Autodeclaração atrasada de suspeição
Se os outros dois promotores colegas de Blat no caso frustrado contra
Lula não são suspeitos de forjar flagrante, se autodeclararam, na
semana passada, suspeitos para conduzir procedimentos investigatórios
contra o ex-presidente.
Quer dizer, sete meses após imputarem a Lula o crime de obstrução de
Justiça e pedirem sua consequente prisão por causa disso, Cássio
Conserino e Fernando Henrique Araújo admitiram que não devem trabalhar
em casos envolvendo Lula. O motivo? Não revelaram, disseram apenas ser
“questão foro íntimo”.
Para o advogado dos diretores da Bancoop, Rubens de Oliveira, a
situação é muito inusitada. “É questionável tudo que ele fez até agora.
Mas por que é suspeito só agora? Espero que a juíza peça para ele se
manifestar. Não é usual que tenha de explicar foro íntimo, mas acredito
que, nesse caso, ele precisa explicar”, disse.
“Barraco com juíza do TJ-SP”
Em outubro deste ano, o trio de promotores protocolou um documento
acusando o Ministério Público Federal no Paraná e a equipe de
procuradores da Operação Lava Jato de organizarem um conluio com uma
juíza paulista e montar uma denúncia contra o ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva apenas com base em “achismos”, no que se refere ao
apartamento no Guarujá cuja propriedade é da OAS, mas que os
procuradores da Lava Jato insistem em dizer que é “propriedade oculta”
de Lula.
Em sua reclamação à juíza paulista Maria Priscilla Veiga de Oliveira,
que entregou o caso ao Ministério Público Federal do Paraná, para ser
julgado pelo juiz Sérgio Moro, Conserino abre mão da etiqueta forense e
se dirige à magistrada em linguajar pouco comum no âmbito do Judiciário,
além de dar início e encerrar o documento sem as cordialidades de
praxe. “Aqui tem Ministério Público! Aqui tem Promotores de Justiça que
fizeram uma denúncia com convicção. Não denunciamos com base em
achismo”, afirmou Conserino, comparando seu trabalho ao dos procuradores
do MPF-PR.
Tudo isso disseram os promotores só para, dois meses depois,
admitirem que não podem conduzir investigações envolvendo Lula e o
prédio do Guarujá, por serem suspeitos, “por motivo de foro íntimo” não
revelado.