Direto do Facebook: "Estamos todos, em algum nível, adoecendo de ódio."


 
 Estamos todos, em algum nível, adoecendo de ódio. Nas redes, adoecemos com as notícias, adoecemos por escrito. Talvez só os memes guardem um determinado nível de sanidade. Precisamos redescobrir alguma literatura. Quem sabe deixar que o silêncio reencante as conversas, para reencantar os olhares, para reencantar abraços, gradativamente. O Facebook é o lugar do ódio, o Sarahah é o lugar da covardia, o Instagram é o lugar da inveja, o Twitter é o lugar do deboche. Vivemos todas as emoções tóxicas possíveis sem que ninguém saia de casa. O mundo nos envenena no sofá. Ninguém sabe se o caminho é sumir, se o caminho é lutar, se o caminho é fingir lutar porque essa é a moda que impera em meio às subjetividades, que o mercado já aproveita. Estamos todos perdidos, afogados em opiniões, alimentando a demanda por informação, esperando o like, tentando fazer justiça, sonhando destruir o Congresso, sem desligar a mente, sem ouvir o coração. Traímos a nossa natureza, que está conosco todos os dias, atropelando nossas próprias necessidades para que nos enquadremos a todo custo nessa dinâmica de comunicação. Talvez já sejamos quase integralmente máquinas. Como todas as máquinas, frias, desertas, de argumentos rígidos, com baixos sentimentos no refrão. Mas de repente nos ocorre um eclipse de surpresa, ou uma aula de dança no meio da rua, uma visita de amigos, uma ajuda incalculável, um convite para viajar, uma bebida, uma frase de amor, algo qualquer que nos mostre tanto que estamos doentes de tudo quanto que máquinas não adoecem. O que pode significar um lampejo de esperança. Só adoeceu aquilo que se encontrava suficientemente pulsante. Lembramos de como éramos para reescolher o que somos. O copo está meio cheio. Deletamos a noite, amanhã o dia é outro.