Homenagem póstuma ao meu amigo Livardo Alves autor da música Meu País

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Busto de Livardo no Ponto de Cem Réis em João Pessoa -PB

Esse é o Li que não sou eu. Esse Li, que se chamava Livardo Alves, natural do bairro da Torre em João Pessoa PB, é o verdadeiro autor da Letra da musica "meu País". Assim como eu era chamado LEE à época, diretor do Jornal Rato da Praia(humorístico), era confundido sempre com Livardo que também era chamado de LI.
Sempre a tardinha,  os bons vi vans, se encontravam    no  Ponto de Cem Réis  no centro de João Pessoa (leia-se, Café São Braz), Lá estava Livardo, Orlando tejo, Babi, Mário Pessoa, Carlos Medvedef, Parrá, Azumir Limeira, Dércio Alcântara, Vital Farias, Fred, Jaêmio Carneiro entre outros...
Sim, porque estou escrevendo e falando sobre esse assunto: É para afirmar de uma vez por todas que a Letra da Música "Meu País" é de autoria de Livardo Alves e não de Zé Ramalho, bem como, também, não é de Flavio José.
Em 1994, eu morava no bairro 13 de maio , que ficava  próximo ao bairro da Torre, onde eu e Livardo nos encontrava-mos para o ensaio da musica Meu País. A Letra já estava pronta, pois um dos seus compositores , Orlando Tejo, que morava em Brasília na época, tinha vindo a João Pessoa para decidir com o Maestro chiquito a gravação da Música Meu País em  um CD ao vivo no Teatro Santa Rosa. 
Lá estava eu e Dércio, correndo atrás de patrocínio, pauta de teatro, ensaios com a Banda Filipéia, arrumar camarim entre tantos outros itens de uma produção. No dia  "D"da Gravação , fico incumbido de pegar Livardo para leva-lo ao Teatro Santa Rosa  para o grande momento de sua carreira . Livardo, não estava bem de saúde, pois a poucos dias tinha recebido o diagnóstico de  um câncer de próstata. A vida pra ela estava por um fio. E ele sabia disso.
 Mas voltando  a tarde desse mesmo dia, quando fui pega-lo  para levá-lo ao Teatro, dentro do banheiro , tomando banho, em sua casa  me disse: " Lee , esqueci a letra da música". Gritou ele angustiado:   "Tem umas folhas de papeis  sufit aí na estante e uma caneta do lado, me ajude a escrever as estrofes, uma em cada folha,ok?"
Sim, claro, disse eu. E em letras de Forma comecei a escrever a  primeira estrofe da música: TOU VENDO TUDO, TOU VENDO, MAS BICO CALADO, FAZ DE CONTA QUE SOU MUDO..
Rolou um jererê, e  só chegamos  no Teatro já  quase na hora marcada. Foi uma correria para o Camarim. E na coxia, o maestro Chiquito,"puto da vida," porque não dava mais tempo para passar o som. Falou: " Livardo, vc não pode errar, vamos gravar direto, ok?"!  Pra encurtar a história que é muito longa, Começa o show e lá estava  Livardo, cantando a musica Meus País, lendo nas folhas de papéis que copiei.


 Tô vendo tudo, tô vendo tudo
Mas bico calado, faz de conta que sou mudo
  Um país que crianças elimina
 
Onde nunca os humildes são ouvidos
Que não ouve o clamor dos esquecidos
 E uma elite sem Deus é quem domina
  
E a certeza da dúvida infeliz
Que permite um estupro em cada esquina
 Onde quem tem razão baixa a cerviz
 E massacram-se o negro e a mulher
Um país onde as leis são descartáveis
Pode ser o país de quem quiser Mas não é, com certeza, o meu país
  Por ausência de códigos corretos Com quarenta milhões de analfabetos E maior multidão de miseráveis
Mas corruptos têm voz e vez e bis
Um país onde os homens confiáveis Não têm voz, não têm vez, nem diretriz
 E o respaldo de estímulo incomum Pode ser o país de qualquer um Mas não é com certeza o meu país Um país que perdeu a identidade
De saber o que pensa e o que diz
Sepultou o idioma português Aprendeu a falar pornofonês Aderindo à global vulgaridade Um país que não tem capacidade
 Que não pode esconder a cicatriz De um povo de bem que vive mal Pode ser o país do carnaval Mas não é com certeza o meu país
Um país onde escola não ensina
Um país que seus índios discrimina E as ciências e as artes não respeita Um país que ainda morre de maleita Por atraso geral da medicina
  E hospital não dispõe de raio - x Onde a gente dos morros é feliz Se tem água de chuva e luz do sol Pode ser o país do futebol Mas não é com certeza o meu país
Que do poço fatal chegou ao fundo
Tô vendo tudo, tô vendo tudo Mas, fico calado, faz de conta que sou mudo Um país que é doente e não se cura Quer ficar sempre no terceiro mundo
 Sem saber emergir da noite escura Um país que engoliu a compostura Atendendo a políticos sutis Que dividem o Brasil em mil Brasis Pra melhor assaltar de ponta a ponta

Pode ser o país do faz-de-conta Mas não é com certeza o meu país