Era uma vez um candidato que se dizia íntegro e prometia verdadeira guerra santa contra os gatunos da nação. Não haveria mais anuência com o malfeito. Os corruptos que infestam a política estariam com os dias contados. Na esteira do frenesi moralista, anunciou o famoso juiz de Curitiba como superministro da Justiça.
Mas eis que, sem ninguém esperar, aparece um ex-assessor, amigo da família, que movimentou 1,2 milhão de reais entre 2016 e 2017. Muito dinheiro para quem recebia modesto salário de motorista e vive em uma casa simples, em um bairro distante no Rio de Janeiro. Foi o primeiro indício de algo que cheirava mal. Logo depois descobriu-se que Fabrício Queiroz, o ex-motorista, recebeu em conta depósitos de sete assessores de Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ).
Além de receber gordas quantias de funcionários do gabinete, Queiroz mostrava-se generoso nas transferências para amigos, como foi no caso do depósito de 24 mil reais na conta de Michele Bolsonaro, esposa do presidente eleito. Segundo o capitão, o depósito foi a título de pagamentos de um empréstimo feito ao velho amigo. Outra vez, soou suspeito. Afinal, por que o ex-motorista pegaria empréstimo com Jair Bolsonaro, no valor total de R$ 40 mil, se detinha em sua conta bancária mais de um milhão de reais?
A explicação do presidente é fragilíssima. As evidências apontadas pelo relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), órgão ligado ao Ministério da Fazenda, sugerem a formação de esquema de repasse ilegal de recursos para membros da família Bolsonaro por meio de um laranja, o ex-assessor Fabrício Queiroz.
Queiroz, que permanece em silêncio, não é um simples assessor. Ele é amigo de Bolsonaro desde o tempo do exército, foi comandado pelo vice, Mourão, que o avaliou como um “bom soldado”. Ele faz parte do grupo mais próximo do presidente, frequentando passeios e churrascos.
Diante de robustos indícios de falcatrua, é preciso pronta investigação do caso. Sérgio Moro e os procuradores da Lava Jato, figuras efusivas nas investigações que envolvem Lula e o PT, pouco ou nada falaram sobre o assunto. Postura estranha para quem se diz implacável no combate à corrupção. Na verdade, como aliados de Bolsonaro, vão buscar empurrar o escândalo para debaixo do tapete.
Certamente, não poderemos contar com a boa vontade do Ministério Público e do restante do Judiciário nas investigações do caso. Será preciso muita pressão política sobre estes órgãos. Neste sentido, é bem-vinda a articulação de deputados do PSOL, PT e PCdoB para criação de uma CPI para investigar as transações financeiras feitas por assessores de Flávio Bolsonaro (PSL-RJ).
O escândalo do assessor talvez seja a primeira face oculta de Bolsonaro a vir a público. Outras mais aparecerão tão logo assuma a cadeira presidencial. E não somente em matéria de práticas pouco éticas. Muitos eleitores do “mito” descobrirão em breve outras maldades que não foram contadas na campanha, como a reforma da Previdência, os cortes de gastos sociais, a retirada de direitos trabalhistas, entre outras medidas que vão piorar a vida da maioria do povo brasileiro para beneficiar os ricos e poderosos de sempre.
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