Com um passado político recente turbulento, o Peru teve quatro presidentes em cinco anos – dois deles acabaram presos. Um outro ex-presidente, Alan Garcia, cometeu suicídio em 2019. Quando a corrida eleitoral peruana de 2021 começou, poucos apostavam no sindicalista Pedro Castillo, do Partido Peru Libre.
Keiko é uma velha conhecida dos peruanos – o pleito de 2021 é o terceiro disputado pela direitista neoliberal. Foi ao segundo turno as três vezes e perdeu todas por margem ínfima. Em 2020, ela chegou a ser detida sob acusação de ter recebido US$ 1,2 milhão da Odebrecht.
Defensora do atual regime de royalties das mineradoras – a economia peruana é baseada nesse extrativismo -, Keiko é contra a nacionalização dos recursos naturais defendida pelo rival Castillo. Keiko e o escritor Mário Vargas Llosa, gênio literário mas sabujo entreguista, chamavam Castillo de comunista por conta dessa proposta.
O espantalho “vermelho” foi um dos temas da campanha suja feita pela direita peruana contra o sindicalista. A campanha quase deu resultado – se nas primeiras sondagens de segundo turno, Castillo tinha quase 20 pontos percentuais de frente, a apuração do pleito virou um thriller digno de Hollywood.
Pedro Castillo pode ser mais do que uma vitória da esquerda no continente – embalada pelas vitórias de Fernandez na Argentina, Arce na Bolívia, a derrubada do governo direitista paraguaio e a possível volta de Lula ao poder no Brasil. O sindicalista representa um reencontro do Peru com suas origens andinas e indígenas.
Ainda criança, o pequeno Pedro levantava às 5 da manhã para ajudar a mãe a fazer fogo e preparar o almoço no vilarejo de Puña, na província de Chota. Para chegar à escola, caminhava por duas horas em encostas de montanhas. Era tido como louco por mover as mãos enquanto andava – ele dizia que estava escrevendo as tarefas “no ar” e assim saberia a lição quando chegasse ao colégio.
Além de sindicalista, Castillo é professor primário e costuma encerrar seus discursos com uma frase que virou mote de campanha: “palabra de maestro” (“palavra de professor”). O símbolo eleitoral do candidato indígena era um lápis gigante.
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