Bolsonarista que prega ataque ao STF é treinado diretamente pelo Ministério da Defesa

 

Um bolsonarista radical que prega ataques ao Supremo Tribunal Federal e a “morte de comunistas” está sendo treinado pela Escola Superior de Guerra, a ESG, do Ministério da Defesa do governo Bolsonaro. Acredite se quiser.A escola selecionou Ricardo de Barros Moreira para uma disputada formação em “logística e mobilização nacional”. A instituição está colaborando diretamente para a radicalização da extrema direita.

Ele é pré-candidato declarado para 2022.

Moreira já atuou como oficial combatente temporário do Exército, mas hoje não tem vínculo conhecido com as Forças Armadas ou com qualquer outro órgão oficial. Procurado, ele afirma que sua meta é “vencer a guerra ideológica”. Ricardo conseguiu a vaga graças à indicação de uma entidade privada comandada pelo avô, um general reformado.Ex-militar, ele se apresenta nas redes sociais como Tenente Barros Moreira. O militante virou um “influencer” dos radicais bolsonaristas. Além de defender o presidente da República e suas pautas, ele prega a “guerra” contra o STF, a prisão de ministros e o “expurgo do comunismo”. Sua mobilização em prol das bandeiras de Bolsonaro ganhará impulso com uma formação paga com dinheiro público e oferecida pela pasta comandada pelo general Walter Braga Netto.

O que ele vai aprender lá?

Treinamento em mobilização e logística é restrito: somente 30 pessoas são selecionadas anualmente, a maioria servidores públicos de carreiras da elite do funcionalismo e militares da ativa. O curso tem carga horária de 427 horas, mais do que o exigido para uma formação de mestrado. O resultado da seleção da Escola Superior de Guerra foi divulgado no Diário Oficial do dia 16 de agosto. De acordo com a portaria que aprovou o processo seletivo, Barros Moreira foi aprovado após ter sido indicado por uma entidade chamada Escola de Líderes Brasil.

Entidade oferece até cursos pagos de marketing. A escola é comandada por Eduardo José Andrade de Barros Moreira, avô de Ricardo. O nome de José Andrade também aparece entre os professores do curso de logística e mobilização oferecido pela ESG. Segundo o Portal da Transparência, ele é general reformado.

“O governo não tem nada a ver comigo no momento. Mas quem me indicou não te interessa, porque vocês estão aí para trabalhar para a tropa do outro lado. Não sei de onde vocês tiraram essa informação, mas suspeito muito que o comunismo está ali dentro da Escola Superior de Guerra”, disse Moreira ao ser consultado, depois de atender o telefone com um grito de “Selva”, saudação que costuma ser usada por militares do Exército.

Barros Moreira atacou até a formação oferecida pelo Ministério da Defesa: “Tem docentes que nem são militares. A escola tem ido mais para o lado civil, tanto docente quanto discente, e isso tem que ser investigado. Sei que a esquerda está tentando se apossar das escolas militares”. “Vocês estão sendo estudados, e se preparem porque a guerra está em pleno vapor. Essa guerra ideológica, vocês estão perdendo”, disse.

Ministério da Defesa e o Centro de Comunicação Social do Exércitonão responderam a questionamentos sobre o caso.

ESG

Escola Superior de Guerra foi criada em 1949 e, segundo o Ministério da Defesa, é um “instituto de altos estudos de política, estratégia e defesa que se destina a desenvolver e consolidar os conhecimentos necessários ao exercício de funções de direção e assessoramento superior para o planejamento da defesa nacional”.

Esse edital do curso de logística e mobilização exige que o candidato esteja em atividade na instituição responsável pela indicação, em exercício de cargo de nível superior. No currículo que divulga nas redes sociais, Ricardo Barros Moreira declara que seu último emprego foi como assessor da deputada distrital Kelly Bolsonaro, na Câmara Legislativa — apesar do nome, a parlamentar não é familiar do presidente da República.

Depois de ser exonerado, o ex-militar passou a divulgar vídeos no YouTube mostrando sua rotina como motorista de Uber. Ele também publica com frequência pedidos de apoio para a campanha do ano que vem, além de enquetes sobre qual cargo deve disputar.

Com informações da reportagem de Helena Mader na revista Crusoé, do site de extrema direita O Antagonista.

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