Depois de dias de preocupação com uma aproximação do presidente Jair Bolsonaro (PL) nas pesquisas, a campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) retomou ânimo com base em dados de levantamentos internos e decidiu focar a reta final da disputa pelo Palácio do Planalto nos Estados do Sudeste, de acordo com fontes ouvidas pelas Reuters.
Segundo as fontes, trackings internos da campanha nos últimos dois dias apontam para uma diferença de 6 pontos percentuais entre Lula e Bolsonaro, maior do que a última pesquisa Datafolha, que registrou apenas 4 pontos, o que configura empate técnico no limite da margem de erro.
Os mesmos trackings apontam ainda que Lula tem uma vantagem de 4 a 5 pontos em Minas Gerais, ao contrário do que diz Bolsonaro, que afirma ter virado o placar em Minas depois da vitória de Lula no Estado no primeiro turno.
No Nordeste, segunda região mais populosa do país, Lula manteria a larga vantagem que obteve no primeiro turno, mesmo depois de investidas bolsonaristas.
Os números internos normalmente não são usados externamente pelo PT, mas vazaram até como estratégia do partido para acalmar o clima de apreensão que havia começado a se instaurar entre a militância após as últimas pesquisas.
Decisões positivas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contra notícias falsas que atingiram a campanha e dando direito de resposta a Lula em inserções que pertenciam a Bolsonaro, além da boa repercussão de algumas ações da campanha, deram também um ânimo extra à militância. No caso das inserções, a decisão foi suspensa, mas pode voltar depois da análise pelo plenário do TSE hoje sábado (22).
Nessa reta final, a nove dias da eleição, a intenção é fortalecer e reorganizar a militâncias nas redes e também nas ruas. No domingo, o ex-presidente tem um segundo encontro com influenciadores digitais sobre produção de conteúdos para esses últimos dias.
Uma campanha televisiva de ataques a Bolsonaro, incluindo o caso das meninas venezuelanas --em que o presidente usou a expressão "pintou um clima" ao comentar encontro com jovens de 14 e 15 anos--, e sua defesa do ditador paraguaio Alfredo Stroessner, também acusado de pedofilia, irá continuar, mas Lula não quer ficar respondendo acusações e notícias falsas criada pela campanha rival.
"Eu tenho dito que a gente não pode entrar no jogo rasteiro do Bolsonaro. A gente não pode ficar respondendo as bobagens que ele fala. É tudo que ele quer", disse Lula durante entrevista em Juiz de Fora (MG) ontem, sexta.
MINAS E SÃO PAULO
Lula vai concentrar os últimos dias em Minas Gerais e São Paulo. Nesta sexta, o ex-presidente foi a Juiz de Fora e Teófilo Otoni, e no sábado irá à zona metropolitana de Belo Horizonte. Na quarta-feira, a senadora Simone Tebet (MDB), terceira colocada no primeiro turno da disputa pelo Planalto, voltará ao Estado para fazer campanha em nome do ex-presidente.
Considerado um retrato do Brasil e segundo maior colégio eleitoral do país, Minas guarda o histórico de, desde a redemocratização, quem venceu ali venceu também a eleição nacional. No primeiro turno, Lula ganhou, por uma margem apertada.
As duas campanhas investiram pesado no Estado nesse segundo turno, com Bolsonaro obtendo o apoio do governador reeleito, Romeu Zema (Novo). No entanto, uma boa parte dos eleitores de Zema votaram em Lula na eleição nacional.
Perguntado sobre o que faria para tentar diminuir uma diferença de votos no Sudeste de 7 pontos percentuais, apontada pelo último Datafolha, Lula respondeu nesta sexta: "É por isso que estou aqui em Juiz de Fora, amanhã vou à zona metropolitana. Vim aqui pegar essa força de vocês. Nós vamos ganhar em Minas", disse.
O ex-presidente encerrará a campanha com um ato em São Paulo na quarta-feira -- último dia em que comícios são permitidos. Antes, na segunda, terá um ato em defesa da democracia também em São Paulo, para o qual chamou nomes como Henrique Meirelles, em mais uma tentativa de mostrar que conseguiu montar uma frente ampla em apoio a sua candidatura.
Uma preocupação que permanece é a do risco de abstenção alta nesse segundo turno, e que pode afetar diretamente a votação de Lula, mais concentrada na população de baixa renda. Uma ação impetrada pela Rede e pelo PSOL conseguiu que o Supremo Tribunal Federal (STF) garantisse a liberação pelas prefeituras de transporte público gratuito no dia da eleição, mas Lula tem enfatizado a necessidade da militância trabalhar para evitar que as pessoas deixem de votar, seja qual for o motivo.
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