Tem gente tentando tirar um peso das costas com a tese segundo a qual Pablo Marçal cresce e agora empata com Boulos e Nunes no Datafolha, em meio ao caos da campanha eleitoral em São Paulo, por ser uma alternativa turbinada pelas elites que não apostam mais no prefeito.
É mais uma conversa preguiçosa, sustentada pelo mesmo argumento de que nossos problemas são provocados por interferências externas que golpearam Dilma, encarceraram Lula e inventaram Bolsonaro. Gente poderosa, mas de fora.
Marçal seria a invenção de uma aliança da delinquência com grandes empresários, os mesmos que patrocinaram Bolsonaro e que ficaram quatro anos com o sujeito porque queriam ter a proteção de Paulo Guedes.
Se Ricardo Nunes não funciona direito, as elites inventam Marçal. É só chamar Paulo Guedes de novo, ou anunciar que Roberto Campos Neto estará com ele na prefeitura, e tudo se resolve.
Não é bem assim. Todos eles, desde o Bolsonaro de 2018, são invenções internas, com alguma participação complementar da direita mundial e seus muitos agentes. Mas todos foram gerados pelo Brasil arcaico e, eureka, pelo povo.
E aí está o problema que se apresenta com Marçal para as esquerdas, para a velha direita engolida pela extrema direita e agora também para o núcleo do bolsonarismo. Marçal é uma invenção do povo.
Marçal é o assustador ponto fora da curva do fascismo. Ele tem o que Bolsonaro nunca teve. O influencer conta com um certo povo que o bolsonarismo nunca emocionou.
Ele sensibiliza camadas da população para muito além da classe média branca de tios e tias de meia idade do zap, que formam o lastro do ativismo e da base social fiel e orgânica do bolsonarismo.
Marçal é um estágio acima desse bolsonarismo envelhecido porque mexe com os sentimentos dos jovens que a extrema direita não sensibilizou como pretendia.
Como as pesquisas informam, é o cara do Instagram e do TikTok e de todas as redes, dominando tudo o que se move nesse mundo de ódios, mentiras, difamações e crimes acobertados pelas big techs. Essa é a audiência de Marçal e sua base política, que Bolsonaro nunca teve com esse alcance no público com menos de 40 anos.
Marçal repete aqui o fenômeno Javier Milei na Argentina, que se sustentou entre a classe média suburbana, mais pobre do que média, e entre quem tem menos de 30 anos. Os jovens desiludidos e desorientados elegeram Milei.
O argentino antissistema, que se apresentava com o glamour do economista de grandes grupos, teve o suporte dos jovens para se eleger, porque chegou a eles de um jeito que o fascismo brasileiro não conseguiu e que pode agora conseguir com Marçal.
Fonte : DCM , por Moisés Mendes e Jornal a Tromba
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