Millôr Fernandes, escritor, desenhista e humorista, no seu estúdio
O desenhista, humorista, dramaturgo, escritor e tradutor
Millôr Fernandes morreu na noite de ontem em casa, no Rio de Janeiro.
Ele tinha 88 anos e teve falência múltipla dos órgãos.
Faleceu por volta das 21h de ontem (27) o
escritor carioca Millôr Fernandes, 88 anos. Millôr estava em casa, em
Ipanema, na Zona Sul do Rio de Janeiro. A causa da morte foi falência
múltipla dos órgãos e parada cardíaca.
O velório, segundo a família de Millôr, será amanhã, das 10h às 15h,
no cemitério Memorial do Carmo, no Caju, na Zona Portuária do Rio de
Janeiro. Depois, o corpo do escritor será cremado. No ano passado, ele
chegou a ser internado em duas ocasiões na Casa de Saúde São José, no
Humaitá, na Zona Sul carioca. A pedido da família, o hospital não
informou detalhes sobre as internações.
Autodidata, Millôr Fernandes começou a carreira artística na revista O Cruzeiro,
aos 14 anos, primeiro como contínuo. Chegou a conciliar os papéis de
tradutor, jornalista e autor de teatro. Certo dia escreve uma crônica
com o pseudônimo de Notim e ganha o concurso e passa a ser promovido para a revista Cigarra como arquivista. Ele foi um dos fundadores do jornal O Pasquim, que fazia oposição ao regime militar, no fim dos anos 1960.
O
artista tinha um site pessoal para o qual escrevia textos de humor e
cartuns. O espaço virtual reúne seus trabalhos produzidos nos últimos 50
anos. Seu perfil no Twitter já contava com mais de 285 mil seguidores.
Veja imagens em : http://www2.uol.com.br/millor/aberto/classicos/084.htm
Biografia - Milton Viola Fernandes nasceu no dia 16
de agosto de 1923, mas só foi registrado oficialmente no ano seguinte,
no dia 27 de maio. Durante a adolescência, uma revelação: graças à
caligrafia duvidosa no cartório, ele se deu conta de que havia sido
registrado como Millôr e não Milton. Filho de Maria Viola Fernandes e de
Francisco Fernandes, o carioca conviveu muito pouco com o pai, que
faleceu em 1925. Imigrante espanhol, Francisco era engenheiro e morreu
aos 36 anos. A mãe de Millôr precisou batalhar como cozinheira para
sustentar a casa e os quatro filhos que tinha para criar.
Apesar
da fase difícil e da pobreza, Millôr dizia guardar recordações de uma
infância muito feliz ao lado de seus tios, primos e de sua avô, a
italianíssima Dona Concetta de Napole Viola. Estudou numa escola
pública, Escola Ennes de Souza, entre 1931 a 1935.
Quando estava na escola, ele adorava ler histórias em quadrinhos, em especial, os gibis de Flash Gordon. Incentivado pelo seu tio Antônio Viola consegue ter seu primeiro trabalho publicado no O Jornal,
editado pelo órgão da imprensa do Rio de Janeiro e onde recebe o seu
primeiro "tostãozinho", cerca de 10 mil reis. Em 1936, sua mãe morre,
também aos 36 anos. Millôr vai morar com os irmãos na casa de um tio
materno, que também era casado e tinha quatro filhos.
Desenhista, tradutor, jornalista, roteirista de cinema e dramaturgo,
Millôr Fernandes foi casado com Wanda Rubino Fernandes e tinha dois
filhos, Ivan e Paula, e um neto, Gabriel.
Ele voltou a O Cruzeiro
em 1943, e ao lado de Assis Chateaubriand, integrou a revista na fase
em que se tornou um sucesso comercial, chegando a bater os 750 mil
exemplares por edição. Na revista, Millôr criou a famosa coluna Pif-Paf, que também teria desenhos seus.
Em
1948, numa viagem aos Estados Unidos, ele conheceu Walt Disney. “Nessa
época eu ainda acreditava que Disney sabia desenhar. Só mais tarde,
lendo sua biografia, aprendi que até aquela assinatura bacana com que
ele autentica os desenhos é criação da equipe”, provoca, na
autobiografia escrita em seu site. No ano seguinte, Millôr assinou seu
primeiro roteiro cinematográfico, Modelo 19, e ganhou o Prêmio Governador do Estado de São Paulo, criado na década seguinte.
Millôr
fez outras viagens marcantes em sua vida. Na companhia de outro
escritor e cronista, Fernando Sabino, passeou de carro pelo Brasil,
durante 45 dias, no início da década de 1950. O destino seria a Europa
em 1952, onde ficou por uma temporada de quatro meses. Um ano depois,
chegava aos palcos sua primeira peça teatral, Uma mulher em três atos, que estreou no Teatro Brasileiro de Comédia, em São Paulo.
Foi através do teatro que Millôr foi mais premiado. Um elefante no caos,
foi um de seus textos de sucesso, em 1960. Anos depois, diria em seu
site: “Foi transformada num excelente espetáculo pela genial direção de
João Bittencourt. Uma das poucas vezes que um diretor melhorou um
trabalho meu”.
Millôr também assinou mais de uma dezena de textos como roteirista, dentre eles o longa Terra estrangeira, e Memórias de um sargento de milícias,
adaptação da obra de José Manuel de Macedo produzida pela Rede Globo de
Televisão. Também roterizou espetáculos musicais, como o musical Liberdade liberdade, escrito em parceria com Flávio Rangel, e Do fundo do azul do mundo, ao lado de Elizeth Cardoso e do Zimbo Trio.
A
Escola de Samba Acadêmicos do Sossego, de Niterói (RJ) fez um
samba-enredo para Millôr, no carnaval carioca de 1983. O escritor
prestigiou pessoalmente o desfile.
Dentre os veículos de imprensa, colaborou ainda com artigos e crônicas nos jornais O Correio Brasiliense, Jornal do Brasil, O Estado de São Paulo, O Diário Popular, Correio da Manhã, O Dia, Folha da Manhã e Diário da Noite. Para internet, criou o site Millôr Online,
sobre o qual diria posteriormente: “Se eu soubesse o que atrai tanta
gente, nunca mais faria de novo”. E, como bom roteirista, ainda
escreveria sobre a própria vida: "Meu destino não passa pelo poder, pela
religião, por qualquer dessas entidades idiotas. Meu script é original,
fui eu quem fez. Por isso não morro no fim".
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