Duas semanas após Dilma Rousseff ter sido reeleita pela vontade de
mais de 50 milhões de brasileiros, colunistas da mídia tucana já falam
em “impeachment” como se estivessem falando do clima, ou seja, com a
maior naturalidade.
O pior de tudo é que nem de longe há causa para sequer cogitarem uma
coisa dessas. O que chega mais perto de um motivo é matéria com a qual a
revista Veja tentou interferir no segundo turno da eleição presidencial
e que, de tão fraca, jogou sobre a revista o peso da lei eleitoral, com
multa e direito de resposta contra a publicação.
O motivo, porém, não importa. A direita midiática conseguiu ampliar
sua força no Congresso e, através do maior número de congressistas,
espera que a sedição no PMDB, capitaneada por Eduardo Cunha, seja
suficiente para que os derrotados na recente campanha eleitoral consigam
no tapetão o que o povo lhes negou nas urnas.
Para que o leitor possa mensurar a sem-cerimônia com que a mídia
tucana já fala sobre o golpe, reproduzo, abaixo, trecho de matéria do
recém demitido colunista da Folha de São Paulo Fernando Rodrigues, que
continua escrevendo para a família Frias no UOL.
Note, leitor, que, nos primeiros sete parágrafos da matéria, o autor
cita duas vezes a palavra “impeachment”. E no resto da mídia tucana se
dá o mesmo, nos artigos de opinião e até em reportagens.
O termo “Impeachment” virou uma bomba semiótica. Quanto mais falarem
no assunto com essa ligeireza, mais ele se tornará “palatável” e
“corriqueiro”.
Além disso, a possível eleição de Eduardo Cunha como presidente da
Câmara seria a garantia de que a oposição, vitaminada pela dissidência
do PMDB, impediria a presidente da República já no primeiro semestre de
2015.
Por conta disso, a mídia vem transformando um aumento de 3% na
gasolina e de 0,25% na taxa Selic em “estelionato eleitoral”. E, em
breve, recomeçarão acusações e capas de revista semanal e de jornais na
mesma linha do que foi feito pela Veja 48 horas antes da eleição
presidencial em segundo turno.
As imagens de “estelionato eleitoral” e de “envolvimento de Dilma na
corrupção da Petrobrás” tentarão produzir um clima propício ao “golpe
Paraguaio” – alusão ao golpe de estado que o congresso paraguaio deu ao
impedir o ex-presidente Fernando Lugo em um processo que durou 48 horas.
É muito difícil dizer, neste momento, o que ocorrerá no Congresso. Na
Câmara há uma rebelião da base aliada, apavorada com os desdobramentos
da Operação Lava-Jato, que, segundo dizem fontes não-oficiais, tem
potencial para implicar uma centena de deputados tanto do governo quanto
da oposição.
Muito do que está sendo cogitado sobre “impeachment” tem intenção de
intimidar Dilma para que ela faça o que não tem como fazer: brecar as
investigações.
Dilma, aliás, não pode fazê-lo porque não tem esse nível de controle
sobre a Polícia Federal, sobre o Ministério Público e sobre o
judiciário. E não mandaria abafar as investigções nem se pudesse.
A possibilidade de negociações no Congresso para contornar a rebelião da base aliada não é das melhores, portanto.
Por outro lado, não se tem, ainda, o novo Congresso em atuação. Só
após a posse dos novos congressistas será possível tomar o pulso da
Casa.
Claro que derrubar um presidente filiado ao maior partido do
Congresso não seria fácil. Até mesmo o capital sabe que um processo como
esse, que se arrastaria por meses – felizmente, aqui não é o Paraguai e
um processo de impeachment demoraria meses para tramitar – iria afundar
a economia brasileira. Os negócios seriam paralisados à espera do
desfecho e por conta da imensa incerteza que se implantaria.
Contudo, a sabotagem da economia que a mídia vem praticando desde o
ano passado, promovendo um bombardeio de saturação de pessimismo que fez
os investimentos secarem, mostra que a direita midiática prefere
afundar o país a ficar mais quatro anos na oposição.
Se eu fosse Dilma, Lula e o PT, portanto, neste momento estaria
tratando de mobilizar os movimentos sociais e sindicais, bem como
partidos de esquerda que, ao fim do processo eleitoral, perceberam que a
direita mais fascista que infesta o Brasil está disposta a estuprar a
vontade popular e jogar no lixo os votos da maioria.
Pelo andar da carruagem, só uma intensa mobilização das forças
democráticas da Nação pode fazer frente ao movimento golpista que já se
articula à luz do dia.
Como já foi dito anteriormente neste Blog, a Procuradoria Geral da
República e o Supremo Tribunal Federal até podem barrar uma aventura
golpista como a que está sendo desenhada, mas tudo vai depender do clima
que conseguirem criar no país.
Desse modo, se não houver, já, um movimento legalista que repudie com
veemência o golpismo tucano-midiático-parlamentar, a infecção vai
continuar crescendo.
A você, leitor e companheiro de jornada, rogo que não se acomode. O
Brasil está vivendo um clima cada dia mais parecido com o de 1964, com a
diferença de que, desta vez, cogitam usar uma nova modalidade de golpe,
dado em países como Honduras ou Paraguai.
A sobrevivência da democracia que este povo reedificou a duras penas
ao longo de mais de duas décadas de luta depende de não nos
desmobilizarmos. E de Dilma, Lula e o PT agirem antes que o monstrengo
golpista cresça demais.
De minha parte, estou disposto a lutar até onde for necessário. E você?
Blog da Cidadania/Blog a Tromba
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