Mulher adota bebês mortos para garantir funeral decente a eles

Reprodução/BBC

Uma notícia de jornal mudou para sempre a vida de Bernarda Gallardo. Esperando na fila para poder adotar uma criança, ela leu que, naquele dia em específico, uma recém-nascida havia sido abandonada, morta, em um lixão. Decidiu, então, que agora iria adotar um bebê morto para dar a ele um funeral decente.

Alguns meses depois de muita burocracia, a chilena conseguiu adotar a criança morta, a qual nomeou como Aurora. Depois de superar todos os trâmites legais, ela conseguiu adotar a criança e dar a ela toda uma cerimônia de funeral decente. Desde que tomou a atitude, há 12 anos, Bernarda segue adotando bebês mortos para dar uma despedida digna a eles.

“Se você ganha um bebê vivo, você dá roupa, alimenta, e coloca em um berço. Se o bebê chega morto, você precisa conseguir um caixão e dar a ele um enterro decente. As mães, muitas vezes, são vítimas de estupro e incesto. Fui estuprada aos 16 anos, tive a sorte de conseguir superar e, para mim, ela [Aurora] era um pequeno raio de luz que mostrava que a escuridão não era a única possibilidade”, explicou Bernarda à BBC.

Para poder dar a Aurora um enterro digno, Bernarda teve de lutar muito. Primeiro contra a lei do Chile, que considera que se um corpo morto não é reclamado pela família, ele é considerado dejeto humano e jogado fora. O primeiro passo foi provar que a menina chegou a viver fora do útero. Logo após os exames que comprovaram a vida, ela teve de adotar legalmente Aurora para poder enterrá-la.

A adoção, porém, esbarrou em dúvidas sobre a intenção de Bernarda. O juiz acreditava que ela era a mãe biológica de Aurora e queria apenas enterrar o corpo por ter se sentido culpada de abandoná-la. Depois de meses de trâmite, 500 pessoas compareceram ao funeral após terem acompanhado toda a trajetória em um jornal local.

E após o enterro de Aurora a situação não mudou e Bernarda se deparou com mais um bebê abandonado, desta vez um menino. A chilena, então, adotou o garoto, que chamou de Manuel, e tomou o mesmo procedimento. Nos últimos 12 anos, fez o mesmo com outros dois bebês, Victor e Cristobal, totalizando quatro adoções de crianças mortas. Atualmente ela tenta fazer a mesma coisa com outra criança, Margarita.

Apesar das adoções, Bernarda sabe que o problema é muito maior, começando pela lei chilena e passando pela conscientização das pessoas. Ela acredita que a lei chilena vitimiza mulheres pobres ou que sofreram abusos e, por isso, precisa mudar. Para tentar mudar os abandonos, espalha cartazes e conversa com famílias pobres, sempre em busca da conscientização de que bebês não são lixo.

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