O 'Príncipe' da Odebrecht pode implodir o País

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Marcelo Bahia Odebrecht, o maior empresário brasileiro, está, neste momento, atrás das grades. É o principal tubarão fisgado pela décima-quarta fase da Operação Lava Jato, batizada pelos investigadores como erga omnes, ou seja, para todos. "A lei deve valer pra todos ou não valer pra ninguém", disse, em entrevista coletiva, o procurador Carlos Fernando de Santos Lima (leia mais aqui).
Um dia antes, em entrevista ao jornalista Fausto Macedo, do jornal Estado de S. Paulo, Lima falou em "refundação da república". Portanto, já era uma antecipação para o que viria acontecer neste 19 de junho de 2015, que poderá ficar marcado como o dia da queda de uma monarquia empresarial no Brasil.
Recentemente, num perfil sobre os homens mais influentes do Brasil, Marcelo foi retratado como Odebrecht III. Isso porque, desde cedo, ele foi preparado para suceder o avô, Norberto, e o pai, Emílio, naquele que é o maior grupo empresarial do Brasil, com mais de 100 mil empregados e envolvimento direto em todos os grandes projetos do País: das usinas de Belo Monte e Angra 3 às obras olímpicas, passando pelas concessões de estradas e aeroportos, assim como pelo projeto do submarino nuclear.
Na Odebrecht, Marcelo iniciou sua carreira nos Estados Unidos, onde a empresa executou obras importantes, como o Aeroporto de Miami. Desde cedo, foi educado e preparado como um príncipe para se tornar um dos principais capitães de indústria no Brasil. Sob sua gestão, iniciada em 2001, a empresa deslanchou. O pai, Emílio, considerou cumprida sua missão após conseguir realizar, no governo FHC, o maior negócio de sua vida, que foi a criação da Braskem, uma empresa que praticamente monopoliza a petroquímica no Brasil, sob a liderança da Odebrecht.
Com Marcelo, a empresa deslanchou em vários setores. No setor de energia, seu portfólio acumula a construção de 81 usinas hidrelétricas, 17 usinas térmicas, duas usinas nucleares, barragens, além da implantação de 5,7 mil km de linhas de transmissão. Ao todo, são mais de 60 mil megawatts em projetos. Foi também com ele que se intensificou a internacionalização da companhia, com obras em países da América Latina e da África, como Angola.
Sob pressão para delatar
Agora preso em Curitiba, Marcelo será submetido ao mesmo jogo de pressões pelo qual passaram executivos de empresas menores. A diferença, em relação aos outros, é que, além de executivo, Marcelo é também acionista. Ou seja: enquanto os donos de empresas como Camargo Corrêa, na fase inicial, e Andrade Gutierrez, nesta de agora, foram poupados, Marcelo é o dono preso. Enquanto seus rivais atuavam apenas no conselho, e poderão alegar desconhecimento das propinas pagas, ele era acionista e diretor-presidente ao mesmo tempo.
Como a Odebrecht disparou nos governos do ex-presidente Lula, passou a ser identificada pela imprensa que hoje está engajada na campanha contra o PT como uma empresa vinculada ao chamado 'lulopetismo'. No entanto, Marcelo Odebrecht conhece como a palma de sua mão toda a classe política brasileira. No início da Lava Jato, pressionou o senador Aécio Neves (PSDB-MG) para que sua empresa não fosse convocada a depor na CPI da Petrobras. Até porque ele poderia abrir as doações realizadas para políticos de todos os partidos nos últimos anos.
Recentemente, Marcelo foi um dos convidados para um jantar organizado pelo tucano João Doria, potencial candidato à prefeitura de São Paulo pelo PSDB, em homenagem ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. A Odebrecht conhece, nos mínimos detalhes, a vida de todos os políticos brasileiros, com alguma relevância. Caso Marcelo decida falar, não apenas a república será refundada, como deseja o procurador Carlos Fernando Lima, como a política brasileira terá que ser reinventada, a partir do zero.
                               
brasil247