O deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) tem despachado na
residência oficial mais com advogados do que com aliados ora fiéis sob o
medo de ver alguém da família ser preso nestes quase dois meses em que
está fora da presidência da Câmara.
Quem visita o peemedebista
afirma que, diferentemente da realidade de dois meses atrás, o ritmo de
advogados na residência oficial é superior ao de parlamentares.
Segundo
um aliado, são muitas ações judiciais e o próprio Cunha "coordena os
trabalhos". Líderes partidários que sempre estiveram na linha de frente
da defesa do parlamentar ainda telefonam ou fazem visitas esporádicas,
mas longe da antiga rotina de conversas diárias com o presidente
afastado da Casa.
Há quem descreva Cunha como abatido,
desanimado, com a perspectiva de perder o mandato e acabar na cadeia. O
argumento chegou a ser usado para sensibilizar deputados a não
abandonarem sua defesa no Parlamento.
Segundo relatos, o
que mais desestabiliza o peemedebista são as demonstrações de desespero
da mulher, Cláudia Cruz, e da filha Danielle Dytz, que estão na mira do
juiz federal Sérgio Moro. Numa das ocasiões, o peemedebista ficou
nervoso, chegou a chorar, segundo aliados, e foi visto numa ligação
telefônica pedindo para que a mulher se acalmasse.
Acostumado
a ter o controle da situação, o deputado afastado tem se mostrado mais
irritadiço. Quando se frustra, Cunha bate na mesa e xinga. Em outros
momentos, se acalma fumando um charuto cubano Cohiba. E quando sente a
fragilidade tomar conta, volta o foco ao trabalho - que ultimamente se
resume no preparo de sua defesa na Câmara e no Supremo Tribunal Federal,
além da de sua família.
Nos últimos dias, vem sendo
pressionado pelos aliados a renunciar à presidência da Câmara para que
se abra o caminho de destituição de Waldir Maranhão (PP-MA) da
presidência. Segundo um aliado, Cunha admite a hipótese "desde que haja
entendimento sobre o processo dele".
De acordo com o
parlamentar, o peemedebista só não reconheceu publicamente a renúncia
porque ainda não está claro se é viável o acordo para aprovar seu
recurso na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) contra o pedido de
cassação aprovado no Conselho de Ética.
Na piscina
Cunha
também mudou seus hábitos em casa. Quando estava "na ativa", costumava
circular na residência oficial de terno. Agora o deixa sobre uma cadeira
da sala e sem o broche que identifica os deputados. As conversas
reservadas acontecem na área da piscina e os celulares dos
interlocutores são deixados numa mesa entre a porta da sala e a área
externa da casa, longe da conversa.
O peemedebista tem
procurado seguir a orientação dos advogados para não passar dos limites
na articulação política e não dar argumentos para a Procuradoria-Geral
da República alegar que ele está interferindo nas investigações - o que
poderia motivar sua prisão.
Tanto que no dia 20 de maio
recuou da decisão de voltar a frequentar a Câmara por receio de que a
ação fosse interpretada como uma afronta ao afastamento imposto pelo
Supremo e, assim, perdesse a liberdade.
"ACM de hoje"
Cunha
já foi visto aos domingos na Igreja Casa da Bênção, em Taguatinga, no
Distrito Federal. No dia 12 de junho, ele participou do culto e leu um
versículo da Bíblia. Ele disse se sentir como "Daniel na cova dos
leões", mas que acreditava na justiça divina. Segundo o site da igreja, o
peemedebista foi aplaudido e pediu orações para ele próprio.
"Em
todo caso, ninguém, em sã consciência, pode prever o que vai acontecer
com o experiente Eduardo Cunha, que tem em mãos a história recente da
Câmara dos Deputados. Um fato é certo: Cunha hoje é o ACM (Antônio
Carlos Magalhães, político influente no Congresso) de ontem: firme e
conhecedor dos graves pecados de seus adversários. Dilma que o diga…",
diz texto no site da igreja.
Em casa, o presidente
afastado da Câmara frequentemente faz orações com uma senhora que
costumava frequentar seu gabinete.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.